O elogio da razão humana, na Bíblia

João Paulo II, na “Fides et ratio” (1998), mostra como, antes de Cristo, já ocorria uma síntese entre as idéias hebraicas e as melhores idéias da Paidéia.

19. Encontramos, no livro da Sabedoria, alguns textos importantes, que iluminam ainda melhor este assunto. Lá, o autor sagrado fala de Deus que Se dá a conhecer também através da natureza. Para os antigos, o estudo das ciências naturais coincidia, em grande parte, com o saber filosófico. Depois de ter afirmado que o homem, com a sua inteligência, é capaz de “conhecer a constituição do universo e a força dos elementos (…), o ciclo dos anos e a posição dos astros, a natureza dos animais mansos e os instintos dos animais ferozes” (Sab 7, 17.19-20), por outras palavras, que o homem é capaz de filosofar, o texto sagrado dá um passo em frente muito significativo. Retomando o pensamento da filosofia grega, à qual parece referir-se neste contexto, o autor afirma que, raciocinando precisamente sobre a natureza, pode-se chegar ao Criador: “Pela grandeza e beleza das criaturas, pode-se, por analogia, chegar ao conhecimento do seu Autor” (Sab 13, 5). Reconhece-se, assim, um primeiro nível da revelação divina, constituído pelo maravilhoso “livro da natureza”; lendo-o com os meios próprios da razão humana, pode-se chegar ao conhecimento do Criador. Se o homem, com a sua inteligência, não chega a reconhecer Deus como Criador de tudo, isso fica-se a dever não tanto à falta de um meio adequado, como sobretudo ao obstáculo interposto pela sua vontade livre e pelo seu pecado”.

No livro “Sabedoria”, um tratado de ética política, já há uma síntese com idéias do “pensamento da filosofia grega”, especialmente com as idéias estóicas (mescladas, numa síntese, com o melhor das idéias platônicas e aristotélicas).