Bem comum implica em difundir saúde, alimento, roupas, moradias, educação e trabalho com jornada pequena e boa remuneração

O Estado, o poder público positivo, é um instrumento (cf. Maritain), um meio, um servo, algo a ser pautado pela razão do povo, pelo diálogo do povo, para o bem do povo, o bem comum. Deve ser usado, estruturado e organizado de forma racional e para o bem comum, para ser bom, justo, legítimo.

O cardeal Rodríguez Maradiaga, Arcebispo de Tegueigalpa, em Honduras, um dos mais jovens purpurados (por dentro e por fora) e Doutor em Teologia pela Universidade Lateranense, em Roma, explicou este ponto corretamente num bom texto:

A política existe para realizar o bem comum. O poder é um instrumento a serviço de realizar esse bem, e quando se define o bem comum surgem imediatamente os seis desafios básicos, que são:

a) saúde para todos, b) alimento para todos, c) vestimentas para todos, d) habitação para todos, e)  educação para todos, f) emprego para todos.

São essas seis realizações [quase todas referidas em Mt 25] o que chamaríamos de “a escola elementar” da política. Depois vêm, sem dúvida, matérias importantíssimas como a liberdade e a participação, que devem ser apreendidas desde o começo da história pessoal e que vão se aperfeiçoando na medida em que cada um vai se alimentando do peso de prover sua sobrevivência. É por isso que a liberdade não pode se justificar à parte da justiça social. Nos tempos atuais, junto com a política e o desenvolvimento, deve nos importar a ética, porque por um lado temos desenvolvimento e, por outro, temos pobreza. Uma nova perspectiva é o que pode fazer com que o desenvolvimento se reverta em alívio da pobreza. Se assumimos uma perspectiva ética do desenvolvimento, este já não é simplesmente desenvolvimento econômico, e sim desenvolvimento humano”.

Claro que emprego para todos implica em trabalho digno, ou seja, trabalho com jornada reduzida em torno de seis horas, estabilidade no emprego (demissão só com justa causa, cf. regra da OIT), boa remuneração sem roubo da mais valia, direito a parte do lucro, direito a co-gestão e a participação na planificação estatal setorial e geral.