Régis Debray: o socialismo “foi cristão antes de ser marxista” e é uma das fontes (origens, na prática e na teoria) de ideias como uma “república universal, democrática e social” etc.
Régis Debray teve o mérito de militar ao lado de Che Guevara. Esteve preso por vários anos, por este feito. Após ser solto, Debray escreveu o livro “Deus, um itinerário” (São Paulo, Companhia das Letras – Editora Schwarcz LTDA, p. 328), onde mostra a identificação de Cristo (logo, do cristianismo) com os pobres e os trabalhadores:
“Todo humilhado pode identificar-se com ele, desempregado, poeta maldito, Jean Valjean ou o conde de Monte-Cristo. O socialismo, que foi cristão antes de ser marxista, valeu-se dele.
A Revolução de 1848, que pôs a fraternidade no pináculo, colocou-se sob a égide de Jesus, que diretamente inspirou a república universal, democrática e social, por ele abençoada nas ilustrações da época, escoltado por seus anjos”.
Debray demonstra, assim, que o “socialismo” (a ideia de socialização de parte dos meios de produção, de destinação universal dos bens e do primado do trabalho) “foi cristão antes de ser marxista” e que o cristianismo inspirou as idéias de “república universal, democrática e social”, na “Revolução de 1848”.
O mesmo fato foi registrado nos textos de João XXIII, Alceu, Dom Hélder e Frei Betto. Está claro, também, nos últimos textos e cartas de Engels, no livro de Rosa de Luxemburgo sobre a Igreja e o socialismo (acho que em 1905), no texto de Kautsky sobre o socialismo e a religião (acho que em 1908), nos textos de Jaures etc.
Os católicos tiveram ampla e boa participação na Revolução de 1848, nos países onde esta ocorreu inclusive no Brasil.
A Revolução Praieira, em Pernambuco, teve cores socialistas, as cores do socialismo cristão, como provam os textos do grande negro e católico, Antônio Pedro de Figueiredo, discípulo de Buchez, no Brasil. Foi um movimento de superação da democracia liberal, em prol de uma democracia participativa e popular.
Conclusão: a ideia de uma república popular-social, universal descentralizada é profundamente cristã. Estas raízes cristãs estão presentes em milhões de textos cristãos e religiosos.
As verdades salvíficas e naturais, nascidas da razão e ampliadas pela fé, são a base do diálogo e do progresso social e ético, das pessoas e dos povos.