Bertrand Russel ensinou, em várias obras: o socialismo democrático é um “desfecho natural da tradição cristã”.
Em outras palavras, Marx colheu o melhor de suas ideias socialistas das ideias da tradição cristã.
Com um pensamento político semelhante a Stuart Mill (também teísta e socialista democrata, e feminista), Bertrand Russel, em sua “Autobiografia”, de 1914 a 1944 (ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1970, vol II, de 1914 a 1944, p. 353), escreveu: “considero o socialismo em suas formas mais moderadas [socialização parcial] como um desfecho natural da tradição cristã” e acrescenta que “infelizmente o marxismo venceu entre os socialistas”.
Se tivesse vivido um pouco mais, Russel veria que correntes como a teologia da libertação e outras geraram boas sínteses que incorporam os elementos verdadeiros do marxismo (como foi constatado por papas como Pio XI, João XXIII, João Paulo II e até o atual), combinando socialismo, trabalhismo, democracia, nacionalismo, distributismo, nacionalismo etc.
Se Russel fosse mais sábio, iria ver que toda a tradição do socialismo democrático e do trabalhismo nunca cessou de ser cristã e religiosa, e que o marxismo mesmo só foi aceito nas partes em que traz ideias cristãs, disfarçadas, sem citar as fontes (tipo o lema “a cada de acordo com suas necessidades”, que é frase e regra cristã, duas vezes expressa no início dos “Atos dos Apóstolos”, e Marx não cita a fonte….).
Na página 148 da autobiografia, Bertrand Russel reconhece que foi influenciado pelo “catolicismo liberal” desde 1913. Em cartas de 1935 (p. 292, da autobiografia), ele escreveu que “a ideia religiosa no comunismo, que é a razão de seu sucesso (a certeza que dá de que o Tempo, que é Deus, está do lado da gente” pode levar à “estagnação” e que “a energia e combatividade das nações cristãs provêm, a meu ver, da doutrina do pecado, sobretudo do pecado original e do gênero de luta que se deve travar pela redenção”.
Russel devia ter visto que a luta “pela redenção” (libertação, bem comum) tem o apoio efetivo de Deus, que opera por mediações, no processo histórico, respeitando a liberdade das pessoas (Deus adora florescer na vida humana, compartilhar nossa vida).
Russel, infelizmente, declarou-se ateu. No entanto, soube destacar corretamente as origens religiosas (cristãs) do socialismo, de uma democracia popular, social, de um Estado popular, social, amplo.
As idéias de Bertrand, de pluralismo e de uma democracia avançada têm origem nas idéias dos radicalistas cristãos ingleses, que têm como precursor o grande William Cobbet (elogiado por Marx).
O católico William Cobbet inspirou os cartistas (também inspirados pelos irlandeses católicos) e, depois, os trabalhistas ingleses (que eram, quase todos, socialistas cristãos).
Conclusão: Russel acertou ao ver que uma forma de socialismo democrático e participativo, com liberdade, é plenamente compatível com o cristianismo, tal como são compatíveis o nacionalismo (sem os erros totalitários e imperialistas, claro), o distributismo, a democracia etc.