“Deus e o povo” foi o lema republicano e socialista de Mazzini, sendo um plágio das idéias do padre Ronge, de Lamennais, Borne e outros católicos.
O ensino católico e tradicional sobre a Igreja invisível, presente no povo, explica a concepção política religiosa de Mazzini.
Mazzini resumia sua concepção política democrática e socializante com a frase: “Deus e o povo” (“Dio ed il popolo”).
O próprio Marx, lá por 1850, menciona “os manifestos de Mazzini” com seu “conteúdo religioso”, baseados nos textos do padre Ronge. Marx apontava que este conteúdo coincidia com a religiosidade popular do povo italiano, pois representava “a religião da maioria do povo” (o catolicismo).
O lema de Mazzini estava correto e era mesmo católico. Deus fala mediante o povo (pela mediação do povo, cf. Suárez), pois habita o coração da maior parte deste. Mazzini foi um revolucionário genovês que teve o mérito de lutar pela unificação da Itália, ao lado de grandes católicos como Rosmini, Manzoni, Balbo, Cantu e outros milhões.
As idéias de Mazzini têm origem no catolicismo, na sociedade dos carbonários (de fundo católico), no sansimonismo e também em autores como o padre Johannes Ronge, Lamennais, Lessing e vários poloneses católicos. Para ilustrar estas fontes de Mazzini, basta lembrar que Teófilo Efraín Lessing (1729-1781), por exemplo, escreveu obras profundamente cristãs como “A educação do gênero humano” (1780), propondo um evolucionismo religioso. Escreveu também “Nathan, o sábio”, obra profundamente religiosa.
A relação entre Deus e o povo está no núcleo do credo democrático-social religioso de Louis Blanc, Ledru-Rollin, Garibaldi e de milhares de outros autores. Este credo era também compartilhado por autores como Pierre Leroux (1797-1871), o líder dos “humanitaristas”, co-fundador com George Sand (pseudônimo de Aurore Dupin, 1804-1876), da “Revista Independente”. Leroux e Georg Sand defenderam uma república socialista de fundo democrático e cristão. No fundo, este era, também, o ideal de um Eugênio Sue e de outros autores católicos desta época.
Mazzini era apenas um dos líderes do “Rissorgimento”, que contava com Manzoni, Cavour (que seguia as idéias de Lacordaire e de Montalembert), o padre Giobertii e outros neo-guelfos. O amor ao povo está patente também nos textos de Michelet, discípulo do católico Vico.
O próprio Karl Marx escreveu que a fórmula de Mazzini era um “plágio” do movimento católico em Colônia, lá por 1844, ligado ao padre Johannes Ronge (1813-1887). Este movimento, com certeza, também influenciou Marx, que morava na Renânia. A Renânia tem como centro a cidade de Colônia, onde Marx também morou neste período. Bakunin, anos depois, diz que este movimento católico foi um dos berços do movimento socialista. Foi nesta região, em Mainz, que Ketteler amadureceu suas idéias.
Ronge, com Johann Czerski, dirigiu a seita dos católicos alemães, que atuou no nascedouro do movimento socialista na Alemanha, antes de Marx, justamente na Renânia, em Colônia e Breslau. O mesmo para o padre Georges Hermes, em Bonn, onde Marx fez cursos sobre teologia, com o teólogo Bruno Bauer.
A movimentação política católica em Colônia, a cidade principal da Renânia, marcou a juventude de Marx em muitos aspectos. Ronge escreveu várias obras e viveu por anos, exilado, na Inglaterra. Só retornou em 1861, por conta da anistia. O núcleo do pensamento de Ronge era justamente a ligação entre Deus e o povo, que Mazzini plagiou, tal como Lassalle plagiou o católico e socialista Buchez, ponto que Marx também explicou corretamente na “Crítica ao programa de Gotha”.
O movimento do padre Ronge atuou em 1848, difundindo idéias socialistas e o próprio Bakunin aponta que foram precursores de Marx. O núcleo da atuação de Ronge foi, principalmente, em Treves, a cidade natal de Marx.
Mazzini enviou uma mensagem a Pio IX, solicitando seu apoio à unificação da Itália, onde explicita seu jusnaturalismo: “Eu creio firmemente num princípio religioso superior a todas as instituições sociais, numa ordem divina que devemos realizar na terra…”.
Garibaldi, que em toda sua vida conservou-se religioso (mesmo sendo anticlerical), tinha as mesmas idéias jusnaturalistas, como pode ser visto num postagem futura, que colocarei neste blog.
O movimento do “Rissorgimento”, de unificação da Itália, seguiu uma pauta confusa, mas católica, no final das contas. Seguiu as tradições guelfas, contra as tradições gibelinas.
Os gibelinos ensinavam que o poder vem diretamente de Deus para o Imperador. Os guelfos ensinavam, já na Idade Média, que o poder humano nasce da sociedade, sendo natural, estando o poder sujeito à ética, à lei natural.
Num sentido próximo, o movimento populista, russo e americano, era um movimento democrático com ampla fundamentação cristã. Ocorria o mesmo com movimentos como o georgismo, os Cavaleiros do Trabalho, os Cartistas, os Fenianos, os cartistas, o movimento dos poloneses, a luta dos gregos e outros. Todos estes movimentos democráticos tinham ampla seiva cristã.