A Liga dos Justos pré marxista era praticamente toda cristã e foi dela que Marx aprendeu vários pontos do socialismo

A Liga dos Justos, que Marx encontrou atuante desde 1844 (embora existisse desde o início da década de 30 do século XIX), seguia uma linha teísta (especialmente com base em Sismondi, Saint-Simon, Lamennais, Buonarrotti e Weitling) e cativou e educou Marx.

A mesma base jusnaturalista e religiosa está presente em Fourier, Owen e Saint-Simon (basta ver o título da obra-testamento deste último: “O novo cristianismo”).

Os textos de Weitling, Pierre Leroux, Thomas Hughes, Rodbertus ou de um Cabet deveriam ser reeditados, pois são textos recheados de boas verdades, na mesma linha das CEBs (comunidades eclesiais de base).

Por exemplo, Leroux (1797-1871) escreveu: “Do cristianismo e de suas origens” (1848), esboçando um socialismo religioso, democrata e cristão, com pitadas de pitagorismo e budismo (de ecumenismo, que também caracterizam os textos de vários Santos Padres, apreciadores dos textos pitagóricos, presentes também no platonismo, porque muito do platonismo vem dos pitagóricos).

Leroux e Buchez eram bem próximos, tendo Buchez também elogiado o hinduísmo. Eram ecumênicos.

Buchez é a matriz dos melhores textos de Lassalle, do Partido Social Democrático da Alemanha e até da Internacional. 

Etienne Cabet (1788-1856) também trouxe grandes pontos positivos, tendo deixado obras como “O verdadeiro cristianismo” (1848).

Quase toda a Liga dos Justos, como observou Engels, compartilha um socialismo ligado a Cabet e a Weitling, um socialismo cristão pré marxista, também permeado de textos de Lamennais. 

O socialismo difundiu-se na França e na Europa graças às verdades cristãs e hebraicas, presentes nos primeiros socialistas, inclusive Marx.

Outro autor que desenvolveu as linhas gerais de um socialismo democrático e cristão foi Louis Blanc.

Na Rússia, basta ver os textos católicos de Petr Jakovlevic Chaadaev (1794-1856) e os de Tolstoi (anarquista cristão, tendo influenciado Gandhi).

O cartismo, na Inglaterra, era quase todo cristão e católico (a parte maior, ligada aos irlandeses). A principal liderança era católica, com Bronterre O´ Connell. 

Nos EUA, os Cavaleiros do Trabalho, a primeira organização operária (cf. Marx, Engels e Lenin) era praticamente toda cristã e católica, inclusive sob liderança católica. 

Na Alemanha, a Renânia era a principal área de luta, e era majoritariamente católica. O próprio Marx, no jornal “Gazeta Renana”, comparava a Renânia à Irlanda, as duas áreas de luta social. 

Conclusão: como Lênin constatou, há um “espírito [fundo, núcleo de idéias] democrático revolucionário” no “cristianismo”.

Este núcleo é a base da doutrina social e da teologia da libertação.

Sobre a identidade, em linhas gerais, tal como a complementariedade, entre doutrina social da Igreja e teologia da libertação, vale a pena ler o livro de Francisco Ivern S.J. e Maria Clara Bingemer, “Doutrina social da Igreja e teologia da libertação” (São Paulo, Ed. Loyola, 1994).