Marx nasceu na Renânia católica, na cidade mais católica da Alemanha, a cidade mais antiga da Alemanha, a cidade católica de Trier.
Estudou no Ginásio de Trier, que tinha sido um Colégio jesuíta. E teve como colegas seminaristas católicos, inclusive o futuro bispo de Trier. Depois, quando era jornalista, defendeu o bispo de Trier, contra a prisão, determinada por Frederico Guilherme IV.
Marx foi influenciado principalmente pela Liga dos Justos, organização cristã, com ampla citação de católicos. E pelos cartistas, com ampla participação católicos, dos irlandeses.
Marx foi influenciado por grandes católicos, como Béranger; Buchez; Lamennais e Villeneuve-Bargemont.
Villeneuve-Bargemont (1784-1850) escreveu o livro “Economia política cristã” (1834), onde criticou o liberalismo e defendeu a intervenção estatal a favor dos pobres.
Marx, ao começar seus estudos sobre economia política, leu o livro de Villeneuve, recebendo boa influência cristã pré-marxista. Numa linha próxima, houve ainda Ozanam (1813-1853), professor na Sorbonna e fundador dos Vicentinos.
O primado do bem comum era a base da concepção de Alban de Villeneuve-Bargemont, no livro “Economia política cristã” (1834), onde critica a “concentração de riqueza e do poder” nas mãos da nobreza, como a causa principal da revolução francesa.
Alban atacou o “absenteísmo” dos grandes proprietários.
Criticou também a burguesia, a “nova feudalidade”, “do dinheiro e da indústria”, que “começa pela servidão das massas e termina com a usurpação dos poderes públicos”.
Alban criticou o capitalismo, na mesma linha de Sismondi, um dos autores que mais citava. Karl Marx, quando era jovem, leu Villeneuve-Bargemont e também Sismondi, sendo estas algumas de suas grandes fontes cristãs, especialmente católicas.
Os textos de Karl Marx estão cheios de metáforas religiosas, de textos bíblicos e de grandes autores cristãos (inclusive Montalembert). Outra influência católica ocorreu pelos textos católicos de Saint Simon, que era católico e socialista.
Marx também foi influenciado por Petr Yákovlevich Chaadaev (1794-1856), que foi um pensador russo, católico, influenciado por Lamennais. Chaadaev militou ao lado de Alexandre Herzen (1812-1870), pela democracia e a igualdade, tal como faziam os católicos que militavam ao lado de Mazzini e Garibaldi, apesar do anticlericalismo destes líderes que tinham ampla religiosidade.
Outro expoente católico foi Daniel O´Connell (1775-1854), o líder do movimento católico na Inglaterra, organizando a luta do povo irlandês em prol da independência da Irlanda.
Houve ainda Fergus O`Connor, líder dos cartistas.
Outro marco foi o movimento dos católicos da Renânia, na década de 1830 e 1840, elogiado até por Bakunin.
Outro marco foi o movimento católico dos poloneses, contra o czarismo, contra a opressão da Prússia etc. Houve inclusive santos católicos, dirigentes do movimento polonês, no século XIX.
Nos EUA, os católicos militavam no movimento dos Cavaleiros do Trabalho, chegando à liderança deste movimento operário (elogiado por Lenin), com Powderly.
Na Itália, houve líderes emblemáticos como Alexandre Manzoni (1785-1873, elogiado por Pio XI, na “Divini Illius”), Rosmini e Gioberti. Além destes, vale à pena lembrar dos padres Gallupi, Garelli, Billia, Sanseverino, Liberatore, Cornoldi, Satolli, Prisco e outros. E também o grande César Cantu.
Na França, devem ser recordados expoentes como Tocqueville, Ozanam, Buchez, Albert de Broglie, Augustin Cochin, Montalembert, Lacordaire, Dupanloup e outros. Tocqueville, por exemplo, influenciou autores como Edouard Laboulaye (1811-1883), na obra “O partido liberal” (1863), que teve influência no Partido Liberal, no Brasil, no século XIX, defendendo teses pro democracia.
Há ainda Huit, Piat, Desdouits, Fonsegrive, Graty, Ollè-Laprunne, Domet de Vorges, Farges, Peillaube e outros que foram precursores de Maritain.
Há ainda expoentes como John Acton (1834-1902); Skrzynecki; Montalembert; Lacordaire; Ketteler; Ludwig Windsthorst (1812-1891, líder do Partido do Centro, crítico de Bismarck, e Marx pediu textos de Windsthorst, numa de suas cartas); César Cantu; Albert de Mun e outros.
Na Polônia, houve o carmelita São Rafael Kalinowski (1835-1907), um dos líderes da insurreição polonesa e lituana, de 1863, contra a opressão russa contra a Polônia, tendo sido mandado para a Sibéria, por dez anos.
Depois, o próprio Leão XIII, Newmann (elogiado por Henri Brémond), Manning, Gibbon, Péguy, Marc Sangnier, Maritain, Mounier, o abade Pierre, João XXIII, Dom Hélder, Alceu e há milhões de outros expoentes, que, por sua vez, refletem o rio vivo de verdades que corre na consciência (“coração”) do povo, tal como do coração de Deus (cf. Ap. 22).
Napoleão ressaltou que o catolicismo é perfeitamente compatível com um “governo democrático e republicano”. Em seu testamento, Bonaparte escreveu: “morro na religião apostólica e romana, na qual nasci há mais de cinqüenta anos”.
Convém lembrar que até Marx reconhecia o papel positivo de Napoleão ao disseminar na Europa os princípios democráticos da Revolução Francesa.
O livro de Daniel-Rops (1901-1965), “A Igreja das revoluções” (São Paulo, Ed. Quadrante, 2003), em quase 900 páginas, deixou algumas boas páginas sobre a participação da Igreja nos movimentos democráticos do século XIX, reconhecendo que “os escolásticos, com Santo Tomás e depois Bellarmino (acrescentemos, naturalmente, Suárez, para não irmos mais longe)” corroboravam a tese da “soberania do povo”.
Sobre Bellarmino, o papa Clemente VIII, quando o escolheu para ser cardeal, proferiu as seguintes palavras: “elegemos este porque a Igreja não possui outro igual em sabedoria”.