A influência católica na Democracia Popular e no Estado Social

Prova clara da matriz “ideológica” católica do jusnaturalismo teísta é o preâmbulo da “Declaração dos direitos do homem e do cidadão”, de 1789, com referência explícita a Deus, “o Ser Supremo”. O mesmo para Robespierre, praticamente um católico, próximo de padres. 

O livro de Guizot, “História das origens do governo representativo e das instituições políticas da Europa depois da queda do Império romano até o século XIV” (Paris, Ed. Didier, 1855), também atesta as origens cristãs e naturais da democracia.

Os textos do Visconde de Ouguella (1830-1897) também combinavam jusnaturalismo, catolicismo, democracia e socialismo.

Os elos mais relevantes e atuais são (a meu ver): Mably; Lamennais; Ozanam; Lacordaire; Daniel O´Connell e o movimento irlandês e a relação do movimento irlandês com os cartistas; e a participação hegemônica dos católicos na independência da Bélgica em 1830; a constituição belga (avançada para a época), defendida por Leão XIII, que foi núncio em Bruxelas, por vários anos.

Outro elo vital entre Suarez e a teologia da libertação é o movimento de independência e dos católicos republicanos da América Latina.

Na mesma linha, há a ampla participação da Igreja nas Revoluções de 1848, tal como o apoio de Leão XIII ao surgimento das leis sociais, na Alemanha, na França, no Brasil (contra a escravidão).

A luta por democracia e independência dos poloneses também merece destaque, contando com homens como Adam Chmielowski (Frei Alberto, beatificado).

Na Itália, a maior parte dos católicos, especialmente dos leigos e do baixo clero, participou do “risorgimento” e da unificação italiana.

Houve lideranças como Rosmini (“Filosofia da política”, Milão, 1837); Manzoni, o padre Gioberti, César Cantu e outros.

No mesmo sentido, o cartismo, na Inglaterra, também foi um movimento organizado por idéias cristãs. Lênin elogiou o cartismo, escrevendo: “a Inglaterra deu ao mundo o primeiro movimento amplo, verdadeiramente de massas, políticamente formado, um movimento proletário revolucionário, o cartismo”.

Stalin, nas “Conversas com Wells” (embutida no livro “Questões do leninismo”, 1936), também elogiou o cartismo, como movimento precursor. O líder principal dos cartistas foi Daniel O´Connor, um irlandês católico, “distributista”, que lutava por democracia, reforma agrária e outras reformas sociais.

Na Alemanha, houve Ketteler e o Partido do Centro (o “Zentrum” foi criado em 1870-71 e durou até 1933, tendo sido extinto por Hitler); na Áustria, os cristãos sociais fizeram boas e duras críticas ao capitalismo (ver textos de Vogelsang).

Nos EUA, os católicos tiveram ampla participação na vida pública e, em 1890, existiam 84 bispos católicos nos EUA, e apenas uns 14 no Brasil, por conta do regalismo e da falta de vocações.

Em geral, nos EUA, os católicos votaram no Partido Democrático, tendo candidatos católicos que quase chegaram à Presidência, como Frémont, lá por 1870 e, mais tarde, Al Smith, governador de Nova Iorque, que ajudou Franklin Roosevelt.

Outro nome que merece recordação é John Ireland. E John Ryan. 

Depois, houve John Kennedy, no início da década de 60, que foi morto num complô da direita. Robert Francis Kennedy (1925-1968) também foi assassinado quando era candidato a presidente e tinha chance, criticando a guerra do Vietnam.

Na própria China, houve, lá por 1850, os “taipings”, um movimento cristão de camponeses. O termo “taiping” vem de “tai-pin-tian-go”, “reino celeste da prosperidade eterna” e a base teórica era quase toda cristã.

A revolução dos Taipings foi, possivelmente, a maior rebelião dos camponeses, no século XIX e movida por um ideário de origem cristã, especialmente católica, no meio da China.