Na França, houve Buchez, Ozanam, Didon, Charles Perraud, Ramadié, o abade Lagrange (1855-1938), o cardeal Lavigerie e milhares de expoentes combativos católicos, em prol da Democracia participativa popular, do Estado social, da economia mista etc.
Antes mesmo de 1848, houve vários cardeais, como Croy, Belmas, Giraud, Bonald, Affre e outros que protestaram contra o capitalismo.
O boulangismo foi derrotado com o discurso de Lavigerie, no brinde a vários altos oficiais da esquadra francesa, em Argel, lá por 1890.
O cardeal Lavigerie disse: “Quando da vontade de um povo se afirma sobre a forma de governo, e quando, para arrancar um povo aos abismos que o ameaçam, é preciso aderir, sem reservas, a esta forma política, é chegado o momento de declarar feita a prova”.
Para o Brasil, foi providencial a explicitação maior das teses papais e católicas que mostram que a República é uma forma de governo aceitável aos católicos, a partir de novembro de 1890.
Mesmo antes a Igreja sempre conviveu bem com repúblicas, basta ver as cidades-repúblicas da Itália, a Suíça etc, tal como no decorrer da Idade Média e depois nos séculos XVI, XVII e XVIII, pois parte dos países católicos eram Repúblicas.
Isto facilitou a consolidação da República, na França, e a derrubada de alguns projetos de leis contra a Igreja.
Após o brinde, o cardeal abolicionista Lavigerie mandou tocar a Marselhesa, que ainda é o hino nacional francês, com textos jusnaturalistas e teístas.
Leão XIII, em 16.02.1892, na encíciclica “Au milieu des sollicitudes”, detalhou as razões pelas quais era conveniente a aceitação da Constituição de 1875, com o sufrágio universal etc. O argumento principal era que “os católicos”, tal como todas as pessoas, tinham “liberdade de preferirem uma forma de governo a outra”, pois as formas de governo não são “imutáveis” e são relativas, o que importa é que devem proteger e promover o bem das pessoas, o bem comum.
Depois, Leão XIII, numa entrevista publicada em 17.02.1892, aconselhou os católicos franceses a aceitarem a república.
O próprio Pio X, na alocução ao Consistório, em 15.04.1907, disse que “eles [os que perseguiam a Igreja] esperam fazer crer ao povo que, quando nós defendemos os direitos da Igreja, nós nos opomos ao regime popular; e, no entanto, este regime [o popular], nós o temos sempre aceitado, sempre respeitado”.
O que é trágico é ver que os antigos textos de TFP (hoje, esta organização alinhou-se com a CNBB), espalhavam a mesma calúnia, a mesma mentira dos perseguidores da Igreja.
O caudal de mentiras nasce de fontes capitalistas, neoliberais, da CIA etc.
Os bispos do sul do Brasil, na “Pastoral coletiva de 1915” (n. 88 e 89), ensinaram claramente que “afirmar que a Igreja se opõe à constituição moderna das nações e que sistematicamente rejeita e repele o adiantamento do nosso século, é uma vã e pura calúnia”.
Uma “calúnia”, pois “a Igreja católica foi sempre inventora, fautora ou defensora” “de todas as instituições úteis para pôr cobro à licença dos governantes que abusam do povo; de tudo o que serve para impedir o governo de violar as liberdades municipais ou domésticas; de tudo o que concorre para garantir o decoro e a dignidade humana e estabelecer a igualdade”.