O ideal da Igreja é um grande Estado social, popular, que difunda renda básica para todos, e tribute o excesso, o supérfluo, para redistribuir

Giorgio La Pira e outros políticos mostraram que as idéias éticas são as principais fontes da democracia popular e do Estado social.

João Paulo II, num discurso à Associação Nacional dos Municípios italianos, no centenário de Giorgio La Pira, em 26.04.2004, ensinou:

“Na teoria e na práxis política, La Pira sentia a exigência de aplicar a metodologia do Evangelho, inspirando-se no mandamento do amor e do perdão. Permanecem emblemáticos os “Congressos pela paz e pela civilização cristã”, que promoveu em Florença de 1952 a 1956, com a finalidade de favorecer a amizade entre cristãos, judeus e muçulmanos. (…)

La Pira fez uma extraordinária experiência de homem político e de crente, capaz de unir a contemplação e a oração à actividade social e administrativa, com uma predileção pelos pobres e por quantos sofrem.

Caríssimos Presidentes Municipais, possa este luminoso testemunho inspirar as vossas opções e acções quotidianas! (…) Não deixeis de cultivar aqueles valores humanos e cristãos que formam o rico património ideal da Europa. Ele deu vida a uma civilização que, ao longo dos séculos favoreceu o surgimento de sociedades autenticamente democráticas. Sem bases éticas a democracia corre o risco de se deteriorar no tempo e até de desaparecer”.

O cristianismo difundiu “valores [idéias] humanos e cristãos” que são o acervo principal do “patrimônio ideal da Europa”, especialmente o apreço pela democracia.

Frise-se : “valores humanos e cristãos”, ou seja, idéias naturais que são exigências do bem comum e algumas idéias reveladas, supra-racionais, mas nunca irracionais.

Este “patrimônio” de idéias foi a principal fonte que “deu vida a uma civilização que, ao longo dos séculos, favoreceu o surgimento de sociedades autenticamente democráticas”.

Pelos textos de João Paulo II e de La Pira, fica bem claro que as idéias cristãs, hauridas na Revelação e nas idéias da Paidéia, atuaram, como causas teóricas, na eclosão da democracia, na formulação de uma democracia popular, social e participativa, que é nosso “ideal” (“patrimônio ideal”).

Giorgio La Pira foi professor da Universidade de Florença e propôs que Willy Brandt (n. 1913) recebesse o Prêmio Nobel da Paz, em 1971, tendo conseguido este propósito.

Conclusão: o texto acima abona a tese deste humilde blog: as idéias verdadeiras (verdades), que são o cerne da ética, são fatores (causas) fundamentais do bem comum, do poder do povo.

A ética social, na essência do cristianismo, exige, assim, como “ideal histórico” concreto, uma democracia popular, social, comunitária, participativa, trabalhista e humanista, com economia mista (estatais, cooperativas e pequenas e médias propriedades familiares) e vasto Estado social que difunda bens, renda básica para todos, tal como tribute os ricos, tire o excesso (supérfluo) de uns para dar a outros, eliminando a miséria e as grandes fortunas privadas, difundindo igualdade social, mediania.