Organizar publicamente a agricultura, tal como o fluxo do mercado mundial, pontos essenciais

O livro do católico John Madeley, “O comércio da fome” (Petropolis, Ed. Vozes, 2003), traz boa descrição da prática maligna das multinacionais no mundo. Traz bom texto de Ralph Nader, que resume bem, ao escrever: “não há livre comércio no mundo, o que há é comércio gerido por grandes empresas” (grandes corporações privadas, multinacionais). 

Madeley mostra que “as 500 maiores transnacionais” controlam “80% do investimento externo, 70% do comércio internacional e 30% da produção mundial”. Chega ao ponto que “um terço do comércio internacional é efetuado por conglomerados dentro de suas próprias estruturas – a filial de um país vende para a de outro ou compra dela, ou comercia com a matriz”. 

No tocante aos produtos agrícolas, “poucas empresas concentram mais de 80% do movimento de um produto agrícola”. O “comércio de grãos”é controlado por “seis conglomerados”. Mercado de café é controlado por “oito firmas” que controlam quase 60% do mercado. Sete firmas controlam o mercado de chá no mundo ocidental. Três firmas controlam 83% do mercado de cacau. Três firmas controlam 80% das vendas de bananas. 

A Via Campesina, entidade apoiada e formada principalmente por católicos, traz alternativas a este quadro. No Brasil, o MST é o braço da Via Campesina, é a Via Campesina no Brasil, a porta voz natural dos camponeses, da agricultura familiar. 

O correto é protecionismo agrícola (soberania alimentar) para os países pobres. Protecionismo são regras públicas para organizar o fluxo e a logística de movimento das cargas de alimentos, tal como os preços etc. É preciso que o Estado tenha amplos armazéns públicos, para estoque e conservação dos produtos agrícolas, coisa que a Bíblia aconselha, como fica claro com o exemplo de José do Egito, o filho dileto de Jacó. 

Para que o comércio mundial não seja controlado pelas multinacionais, a alternativa é a criação de um Estado mundial, uma República mundial, federativa, participativa, que não anule as 240 nações, e sim as organize, e as faça florescer, em prosperidade, em felicidade. Um Estado mundial suprime as guerras, a corrida de armas, mata o imperialismo, organiza a cooperação mundial, ampliando-a. 

Também é essencial a supressão do dólar como moeda internacional de trocas, o correto é o “bancor” ou um pacote de moedas de vários países, baseadas em organizações continentais e internacionais públicas (expandir a FAO e democratizar o controle desta, tal como da ONU).

O correto é controle público do câmbio, estatização dos bancos, criação de várias entidades públicas no Brasil para controle da produção agrícola, como esboçou Getúlio Vargas, com os “Institutos” de cacau, açúcar, café, trigo etc.

Getúlio também praticamente estatizou os bancos, criando e expandindo nossos bancos públicos.

Da mesma forma, o Estado deve ter o controle da produção de moeda, como queria Keynes.

O Estado deve expandir a tributação, para obter recursos para redistribuir, ponto que José Stiglitz destaca.

O Estado deve controlar preços, ponto que Galbraith destacou corretamente.

A grande mídia deve ser estatal, no molde da BBC, ponto que é essencial. 

A economia deve ser dirigida primeiro à economia interna, expandindo o poder de compra do povo, organizando formas de rendas públicas, de renda universal.

Toda a economia deve ser baseada em ampla propriedade pública e cooperativa (ponto que Sakharov destacou) e milhões de pequenas e médias propriedades familiares, sem miséria e sem grandes fortunas privadas.

Deve haver mediania, igualdade social, como fica claro no exemplo da Suécia, da Dinamarca, Noruega e outros países europeus.