Do blog Cartas Proféticas– Reunida em Sínodo a Igreja Católica Anglicana desenhou seu rosto com as cores de uma igreja orgânica viva e profética – no sentido de seu compromisso inarredável com a classe trabalhadora, com os pobres injustiçados e excluídos econômica e politicamente – afirmando-se radical e oficialmente engajada na realidade econômica, cultural, política e social do Brasil.
Em nota à Nação Brasileira a Câmara dos Bispos afirmou que “somos conscientes da enorme crise que vivemos no Brasil e no mundo.
a)Sabemos que o capitalismo em sua forma imperialista é o pai das crises e decadências mundiais, arrastando os povos, as nações e o planeta terra ao risco de uma hecatombe sem voltas, com danos irreversíveis à vida humana e a de todas as espécies;
b)Sabemos que o Brasil, nossa amada Pátria, sofre as consequências da falência capitalista nos campos econômico, político, social e moral, que leva o povo, notadamente a classe trabalhadora e os pobres em especial, a sofrimentos em forma da perda de empregos, das terras, das riquezas do subsolo, da educação, da saúde e da segurança com todos expostos à violência que cresce e assombra: b1. No campo econômico nosso País é dirigido pela ganância e pelo reforço dos lucros já gordos dos banqueiros e dos cada vez mais ricos, com esvaziamento dos investimentos no desenvolvimento com justiça social; b 2. No campo político vivemos o desprezo de uma elite de costas para o povo, que tomou o poder de Estado para geri-lo na proteção do egoísmo e da perversidade da concentração do privilégios; b 3. No terreno social vê-se aumentarem as mazelas, a miséria, a criminalidade, a degradação das relações humanas com os riscos do fascismo travestido do discurso moralista-farisaico de proteção à família e disfarçado de combate à corrupção, abrir feridas típicas de uma sociedade doente e em guerra; no que tange à moral nunca se viu na história deste País tanta corrupção, enriquecimento ilícito, roubo dos direitos sociais e da institucionalização da injustiça, com o parlamento e o judiciário conviventes com a corrosão dos valores éticos”, declararam os bispos da Igreja Católica Anglicana.
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Manifesto à Nação Brasileira
“Eis-me aqui, Senhor, envia-me a mim” (Isaías 6, 8).
Nós bispos da Igreja Católica Anglicana passamos três dias juntos em oração e em reflexão sobre a vontade de Deus para o Brasil e para o nosso povo, reunidos em Sínodo Nacional em Cametá, Pará, de 09 – 12 de novembro de 2017, com trabalhadores das águas, das matas, dos campos e da cidade, muitos e muitas da academia como educadores/as e educandos/as, muitos/as quilombolas, negros, negras e ameríndios/as perseguidos/as por ruralistas e grileiros gananciosos, vimos à Nação Brasileira nos manifestar:
Que somos a Igreja Católica Anglicana:
Por que cremos que a Igreja é instituída por Jesus, que recebeu dÊle o convite para o seguirmos. DÊle aprendemos o amor radical e consequente para amarmos os pobres, excluídos e injustiçados. Aprendemos que ao amarmos os pobres é a Êle que amaremos (Mt 25, 31 – 46 e Lc 4, 16 – 19).
Porque cremos nos sacramentos instituídos por Jesus e os aceitos historicamente pela igreja.
Porque cremos que o sacerdócio ordenado serve a igreja na realização dos sacramentos no mundo, perdoando os pecados, pregando, organizando a Igreja, remetendo-a à missão do reino de Jesus e a denunciar as injustiças frutos das estruturas opressoras;
Porque nos inspiramos nos santos mártires da libertação, que entregaram suas vidas à causa da realização libertadora do Reino de Deus para dignificar as existências humanas independentemente da fé que as pessoas adotam;
Porque nos vinculamos por fé e consciência ao anglicanismo desde os celtas, valorizando, por isso, as raízes autóctones dos povos, geralmente agredidos, destruídos culturalmente por missões estrangeiras eivadas de colonização escravocrata e antiecológica;
Porque valorizamos sobremaneira o ministério leigo dos santos e santas, batizados/as e confirmados/as no pacto batismal como sinal de fé e compromisso com a igreja que se dispõe a servir o reino proposto por Jesus;
Porque somos ecumênicos e macro ecumênicos sendo pequenos sinais e testemunhos de provocação de unidade e comunhão entre os iguais e os diferentes, com a mais profunda compaixão;
Porque acolhemos sacramental e pastoralmente todas as formas de amor e de comunhão ética e justa, agindo com compaixão entre as pessoas diferentes do que os modelos injustos estabelecem como certos.
Outrossim, somos conscientes da enorme crise que vivemos no Brasil e no mundo.
a)Sabemos que o capitalismo em sua forma imperialista é o pai das crises e decadências mundiais, arrastando os povos, as nações e o planeta terra ao risco de uma hecatombe sem voltas, com danos irreversíveis à vida humana e a de todas as espécies;
b)Sabemos que o Brasil, nossa amada Pátria, sofre as consequências da falência capitalista nos campos econômico, político, social e moral, que leva o povo, notadamente a classe trabalhadora e os pobres em especial, a sofrimentos em forma da perda de empregos, das terras, das riquezas do subsolo, da educação, da saúde e da segurança com todos expostos à violência que cresce e assombra: b1. No campo econômico nosso País é dirigido pela ganância e pelo reforço dos lucros já gordos dos banqueiros e dos cada vez mais ricos, com esvaziamento dos investimentos no desenvolvimento com justiça social; b 2. No campo político vivemos o desprezo de uma elite de costas para o povo, que tomou o poder de Estado para geri-lo na proteção do egoísmo e da perversidade da concentração do privilégios; b 3. No terreno social vê-se aumentarem as mazelas, a miséria, a criminalidade, a degradação das relações humanas com os riscos do fascismo travestido do discurso moralista-farisaico de proteção à família e disfarçado de combate à corrupção, abrir feridas típicas de uma sociedade doente e em guerra; no que tange à moral nunca se viu na história deste País tanta corrupção, enriquecimento ilícito, roubo dos direitos sociais e da institucionalização da injustiça, com o parlamento e o judiciário conviventes com a corrosão dos valores éticos.
Somos uma Igreja profética e orgânica:
a)que amamos a libertação como nome da salvação empreendida por Javé, que libertou o povo hebreu da escravidão do Egito, como quer que trabalhemos pela libertação de nosso povo mais injustiçado e imerso nas escravidões de hoje, acentuadas por reformas que retrocedem o regime de trabalho às condições da escravatura de antes da proclamação da República.
b)com os profetas Isaías, Jeremias, Amós e outros proclamamos: “Ai dos que chamam ao mal bem e ao bem, mal, que fazem das trevas luz e da luz, trevas, do amargo, doce e do doce, amargo! Ai dos que são sábios aos seus próprios olhos e inteligentes em sua própria opinião! Ai dos que são campeões em beber vinho e mestres em misturar bebidas, dos que por suborno absolvem o culpado, mas negam justiça ao inocente!” (5, 20 – 23);
“Ai daquele que constrói o seu palácio por meios corruptos, seus aposentos, pela injustiça, fazendo os seus compatriotas trabalharem por nada, sem pagar-lhes o devido salário. Ele diz: ‘Construirei para mim um grande palácio, com aposentos espaçosos’. Faz amplas janelas, reveste o palácio de cedro e pinta-o de vermelho. “Você acha que acumular cedro faz de você um rei? O seu pai não teve comida e bebida?
Ele fez o que era justo e certo, e tudo ia bem com ele. Ele defendeu a causa do pobre e do necessitado, e, assim, tudo corria bem. Não é isso que significa conhecer-me? “, declara o Senhor. “Mas você não vê nem pensa noutra coisa além de lucro desonesto, derramar sangue inocente, opressão e extorsão. ” Portanto, assim diz o Senhor a respeito de Jeoaquim, filho de Josias, rei de Judá: “Não se lamentarão por ele, clamando: ‘Ah, meu irmão! ‘ ou ‘Ah, minha irmã! ‘ Nem se lamentarão, clamando: ‘Ah, meu senhor! ‘ ou ‘Ah, sua majestade! ‘
Ele terá o enterro de um jumento: arrastado e lançado fora das portas de Jerusalém!” (22, 13 – 19);
“Eu odeio e desprezo as suas festas religiosas; não suporto as suas assembleias solenes. Mesmo que vocês me tragam holocaustos e ofertas de cereal, isso não me agradará. Mesmo que me tragam as melhores ofertas de comunhão, não darei a menor atenção a elas. Afastem de mim o som das suas canções e a música das suas liras. Em vez disso, corra a retidão como um rio, a justiça como um ribeiro perene! “. “Foi a mim que vocês trouxeram sacrifícios e ofertas durante os quarenta anos no deserto, ó nação de Israel?” (5, 21 -25).
c)comprometidos com Jesus porque queremos ser uma igreja como a que sonhou Lucas ao descrever a experiência do Pentecostes em Atos dos Apóstolos; porque lutaremos para que em nossa sociedade a partilha seja assim tão profunda que não mais haja quem roube e quem seja roubado: “Todos os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum.
Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade” (2, 44-45); “não havia pessoas necessitadas entre eles, pois os que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro da venda e o colocavam aos pés dos apóstolos, que o distribuíam segundo a necessidade de cada um” (4, 34 – 35) e viva como corpo de Cristo: “Ora, assim como o corpo é uma unidade, embora tenha muitos membros, e todos os membros, mesmo sendo muitos, formam um só corpo, assim também com respeito a Cristo”; “… que todos os membros tenham igual cuidado uns pelos outros” e ” quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele; quando um membro é honrado, todos os outros se alegram com ele” (I Coríntios12,12, 25 e 26).
Movemo-nos pela fé no Deus que caminha conosco nos dolorosos caminhos da libertação e da missão do Reino de Deus.
Movemo-nos conscientes da enorme crise que vivemos, mas, sobretudo, pela esperança dos que amam a Deus e ao povo no meio de quem Ele nos coloca com humildade.
Queremos ser uma igreja do serviço e não do senhorio dos que se pensam donos do mundo e do cultivo do autoritarismo.
Queremos ser uma igreja com as outras igrejas e com as outras religiões na construção do Reino de Deus, que não é propriedade de nenhuma estrutura eclesiástica e de nenhum senhor coronel espiritual.
Queremos ser uma igreja com Jesus, sobretudo, na opção preferencial pelos injustiçados e pelos oprimidos, sem nenhuma exclusão dos que se converterem como Zaqueu ( Lucas 19, 1 – 10) e se dispuserem a distribuir suas riquezas.
Neste 12 de novembro de 2017 nos manifestamos à Nação Brasileira como Igreja Católica Anglicana.
Conclamamos nosso povo brasileiro aos caminhos da justiça social, que passam pelos elos da grande corrente da democracia com soberania nacional e com direitos sociais.
Cametá, 12 de novembro de 2017.
Dom Orvandil Moreira Barbosa – Arcebispo Primaz e Bispo da Diocese Anglicana do Centro Oeste;
Dom Ricardo Vicente dos Anjos – Arcebispo Primaz Sufragâneo e Bispo da Diocese Anglicana do Pará;
Dom Franciney Rodrigues Pantoja – Bispo Auxiliar da Diocese Anglicana do Pará;
Dom Jorge dos Santos Costa – Bispo da Diocese Anglicana da Santa Cruz, Bahia.