A ligação entre Paideia e as ideias semitas foi feita dentro da Bíblia, do judaísmo e do cristianismo

O livro de Júlio Trebolle Barrera, “A Bíblia judaica e a Bíblia cristã” (Petrópolis, Ed. Vozes, 1996, p. 564 e 565), mostra a linha principal do judaísmo, onde a “hermenêutica judaica, babilônica e alexandrina, oriental e ocidental, semitizante ou helenizante” tem um “ponto de condensação no personagem Hillel”, que “promulgava normas e ensinava a doutrina baseando-se mais na lógica e na dedução racional que na tradição e nas autoritates”. Como explica Trebolle Barrera, Hillel usava a “lógica”, “de corte grego”, “introduzindo no direito e no pensamento hebraico o princípio do realismo socrático e estóico e um talante dialógico”.

O estoicismo valorizava a lógica e mesmo a interpretação etimológica e estes textos foram usados pelos hebreus.

Trebolle é claro: houve uma “simbiose de tradição e modernidade”. Na p. 569, Júlio Trebolle lembra que “a lógica da hermenêutica hilleliana correspondia um estilo dialógico, que favorecia e alentava o pluralismo de opiniões e de pontos de vista”, “resolvida uma questão”, “por decisão majoritária, ainda era possível ensinar uma opinião contrária, sempre que esta fosse defensável por argumentos racionais”. Por esta via, “a razão ocupa lugar central na hermenêutica rabínica”.

A Paidéia (no sentido de “cultura”, de “Tradição”) helênica foi construída, desde o início, nas cidades jônicas, da Ásia, permeadas pelas ideias semitas, usando um alfabeto semita, o fenício, que foi usado pelos gregos. O início foi feito por pessoas descendentes de fenícios, como Tales, Ferecides e pessoas como Pitágoras, influenciadas pelas ideias semitas. O mesmo para Heráclito e outros. Esta síntese se amplia com o estoicismo. E, depois, aumenta mais ainda, especialmente após a ampliação da Grécia, por Alexandre o Grande. Alexandre foi até Jerusalém, até o Egito, a Pérsia e mesmo a Índia (parte da Índia esteve sob o controle dos persas, antes).

Logo, a Paidéia teve amplas fontes semitas, foi sintetizada na fase helenística, é uma síntese gestada especialmente nas cidades asiáticas da Jônia, e, depois, em Alexandria e nas cidades da Ásia Menor (destaque para Tarso, Antioquia e Éfeso), permeada de idéias persas, fenícias, hebraicas, egípcias, babilônicas etc.