Pio XII, no discurso de Natal, em 1942, ressaltou verdades importantes sobre o significado do termo “governar”, na Bíblia, no pensamento hebraico e cristão.
Há idéias semelhantes no pensamento islâmico (destaque para Avicena, Averróis, Rumi e outros), hindu, budista, chinês (nos textos de Lao Tse, Confúcio, Mo Ti, Méncio, o grande Chuang Tzu e outros), africano etc.
Vejamos algumas boas idéias de Pio XII:
“A razão, esclarecida pela fé, prevê, na organização social, uma posição fixa e honrada para cada indivíduo e para cada sociedade particular. Sabe, para aludir somente ao ponto mais importante, que toda a atividade política e econômica do Estado se ordena à realização durável do bem comum, isto é, do conjunto de condições exteriores necessárias ao desenvolvimento das qualidades dos cidadãos, de suas funções, de sua vida material, intelectual e religiosa. (…).
Quem deseja que a estrela da paz se eleve e paire sobre a sociedade humana deve colaborar em despertar uma concepção do Estado e uma ação política que se inspirem numa disciplina razoável, num nobre sentimento de humanidade, na consciência cristã da responsabilidade.
Ajudar a reconduzir o Estado e seu poder ao serviço da sociedade, ao respeito absoluto da pessoa humana (…).
Esforçar-se por dissipar os erros que tendem a desviar o Estado e seu poder da senda da moral, (…) ao serviço da vida individual e social (…).
Promover o reconhecimento e a propagação da verdade que ensina que, mesmo na ordem temporal, o sentido profundo, a legitimidade moral universal do regnare é, em última análise, o servire”.
Pio XII destacou pontos importantes para a filosofia, a ética, a política e uma boa teologia da libertação:
1º) o papel positivo da razão, como matriz (fonte) de normas éticas, uma razão que a luz da fé amplia e traz novos dados, sem, em nenhum momento, violar os dados da razão natural;
2º) destacou que “toda a atividade política e econômica do Estado se ordena à realização durável do bem comum”, ou seja, a sociedade, mediante o Estado, deve ter um papel econômico, produtivo e redistributivo, assegurando a todas as pessoas condições sociais de vida plena, os bens necessários e suficientes para uma vida plena, moradias, roupas boas, carros leves e baratos (elétricos, pela técnica atual), renda fixa e boa, bons alimentos etc;
3º) a “concepção do Estado” e da “ação política” devem ser baseado na razão, o Estado deve ser regido pela razão, presente em todas as pessoas;
4º) o Estado deve estar sujeito a limites éticos, o poder está sujeito a um caminho (senda) ética, que é o “serviço da vida individual e social”; e
5º) “o sentido profundo” e a “legitimidade moral universal” do “regnare” (governar, regrar) “é, em última análise”, “servire”, servir, prestar serviços, ajudar as pessoas.
Conclusão: o Estado e seu poder devem estar subordinados ao povo, ao bem comum, que é o bem do povo.
O mesmo vale para todas as leis positivas e todas as estruturas sociais, econômicas, jurídicas, políticas, culturais, eclesiais etc da sociedade.