Cristãos são espiritualmente semitas

Em 06.09.1938, Pio XI, perto da morte, ao receber uma comitiva belga, leu num missal sobre Abraão, onde se pede a Deus que receba as oferendas na Missa do modo como recebeu o sacrifico de Abraão, o papa lembrou que somos filhos espirituais de Abraão, “nosso Patriarca”.

Disse que “o antisemitismo não é compatível com o pensamento e a realidade sublime” desta oração e do cristianismo, sendo “um movimento abominável”.

No final do encontro com os belgas, Pio XI chorou e disse: “o antisemitismo é inadmissível. Somos todos espiritualmente semitas” (“em termos espirituais, somos todos semitas”).

As palavras papais foram divulgadas principalmente por Dom Luigi Sturzo (democrata cristão elogiado por Gramsci), no jornal belga “Cité Nouvelle” (“Cidade Nova”).

O católicos consideram sagrados os textos bíblicos, inclusive o livro I de Macabeus (3,59), que ensina: “é preferível para nós morrer no combate a ver o extermínio do nosso povo e das coisas santas”.

A cultura antiga, a Paidéia, tinha amplos elementos racionais, tal como a Bíblia, cujos textos, em sua maior parte, são textos racionais. Por isso, a Igreja incorporou e recepcionou o melhor da cultura antiga.

Até hoje, a Igreja cultiva, com imenso carinho, os textos de Platão, Hipócrates, Aristóteles, Sófocles, Eurípedes, Xenofonte, Tucídides, dos estóicos, textos de grandes “cínicos” (Diógenes e outros), de Marcos Pórcio Catão (95-46 a.C), Cícero, Fílon (que esboçou uma síntese entre hebraísmo e o melhor do pensamento grego), dos Proculianos (Labeão e outros grandes juristas), Sêneca, Horácio, Epíteto, Virgílio, Augusto, Horácio, Quintiliano, os dois Plínios, Tácito, Galeno (129-199 d.C., um grande aristotélico eclético), Plutarco (que exerceu enorme influência na Revolução Francesa, diga-se de passagem), Gaio, Ulpiniano, Papiniano e tantos outros.

Emílio Papiniano, por exemplo, foi morto a mando de Caracala porque não quis prostituir a ciência jurídica, justificando um homicídio. Pietro Bonfante redigiu um grande elogio a Papiniano, no livro “Storia del diritto romano” (3ª. ed., Roma, 1934).