Os católicos sociais estão na origem do melhor do movimento socialista mundial

Os primeiros socialistas na Alemanha e no mundo eram pessoas religiosas. Basta pensar que o Partido de Lassale, em 1863, foi organizado com base na plataforma cristã-católico do Cartismo e de Buchez, como ressaltou Karl Marx e Engels, na “Crítica ao Programa de Gotha”.

O partido de Eisenach, ligado a Marx, de 1869, seguiu a plataforma do Partido Popular do sul da Alemanha, que tinha apoio de militantes da Igreja e, no final das contas, também adotou a fórmula de Buchez-Lassale e Ketteler.

A Internacional, como fica evidente no “Preâmbulo”, também seguiu esta fórmula (associações de trabalhadores como base da economia e o Estado controlado por estes).

Em 1870, De Mun e La Tour du Pin ampliam a plataforma de Lacordaire, na linha de Lamennais, Ozanam, Lacordaire e Buchez.

La Tour Du Pin, em artigos no jornal da “Associação Católica” (1883), defendia a intervenção estatal combinada com a organização dos trabalhadores para a direção das unidades econômicas, uma fórmula de autogestão combinada com co-gestão e planejamento público da economia.

O Partido do Centro e o Partido Comunista (originário da fusão em 1875, com o “Programa de Gotha”, ligado a Buchez) trabalharam de forma paralela na formação da legislação operária e social da Alemanha.

schumpeter, em suas obras principais (“História da análise econômica” e “Capitalismo, socialismo e democracia”) elogiou o “catolicismo político”, especialmente na Alemanha, por ter atuado, através do Partido do Centro, em prol de reformas sociais (“o catolicismo político defendeu, desde o princípio, a reforma social”).

Paralelo ao “partido socialista católico” de Buchez (cf. viu Karl Marx), houve a atuação praticamente combinada de Ketteler com Lassalle (baseada nas idéias de Buchez, como apontou Marx e Engels).

Mais tarde, há os socialistas de cátedra, quase todos religiosos. O mesmo movimento ocorreu na Inglaterra, com os cartistas, os fenianos, os socialistas cristãos e, depois, o Partido Trabalhista na Inglaterra. Nos EUA, houve os Cavaleiros do Trabalho e, depois, o New Deal e a esquerda do Partido Democrático, bem próxima aos católicos sociais, nos EUA etc.

No meio católico, o termo “democracia cristã” passa a ser adotado a tal ponto que Leão XIII, na “Graves de Communi Re”, deixa claro que há liberdade política na Igreja e que este termo deveria ser usado unicamente para significar uma ação social da Igreja a favor do povo, com base em princípios sociais, deixando à sociedade a liberdade política. No entanto, após a Segunda guerra mundial, o termo tornou-se corrente na Igreja e com a chancela de Papas, adotando várias coligações com os socialistas, pela próxima dos programas políticos, visando a Democracia Popular, o Estado social e a economia mista.

O mesmo ocorreu com o resto do socialismo, que Pio XI, em 1931, apontou a convergência ou reconciliação entre católicos e socialistas. O mesmo fez João XXIII e Paulo VI e o socialismo democrático passa a ser aceito por centenas de Bispos no mundo todo.

Por isso, a corrente da democracia cristã, na década de 60, defendeu e realizou alianças com os socialistas na Itália e no Chile, demonstrando bem como vários tipos de socialismos não são contraditórios com a Fé, e sim exigências da ética social presente na Fé cristã. 

Frise-se que o significado do termo “socialismo’ sofreu mudanças e nunca foi muito preciso. Por isso, os Papas e os bispos deixaram claro que seria necessário, para usar esta palavra, predicados, adjetivos, ter algum cuidado com as determinações para especificar mais o significado da palavra (que tem excelentes conteúdos e fontes cristãs) e o ponto mais importante era justamente que o socialismo tivesse uma face humana, com liberdade, com base nos direitos humanos. Em outras palavras, que fosse um socialismo com Democracia popular, com Estado social, com liberdades, com economia mista, direitos humanos etc.

O movimento de aproximação de Leão XIII com a República francesa, a Terceira República, é equivalente ao movimento do Vaticano (na gestão de João XXIII, Paulo VI e João Paulo II) em relação ao socialismo democrático (este movimento tem base também nos textos de Leão XIII e Pio XI) e esta foi também a base do movimento da “ostpolitik”, a partir de 1962.

O mesmo ocorreu na Alemanha, na aproximação do Partido do Centro com Bismarck, após 1876 ou 1878, com as reformas sociais de Bismarck, que tiveram o apoio da Igreja Católica, sendo uma das grandes fontes do Estado social, no mundo. 

A “ostpolitik” foi implementada pelos Secretários de Estado do Vaticano e esta abertura do diálogo com os países comunistas ocorreu de forma paralela com a ligação das democracias cristãs com partidos socialistas/comunistas. Isto ocorreu principalmente na França, com o MRP, em aliança com socialistas democráticos, mas também na Inglaterra (onde os católicos podem há mais de cem anos militar no Partido Trabalhista, que é socialista), na Itália, na Espanha (após Franco), em Portugal (após Salazar) e em toda parte.