João Paulo II, na “Solicitudo rei socialis” (1987, n. 44), ressaltou que as nações devem “reformar” as
“estruturas injustas e, em particular, as próprias instituições políticas, para substituir regimes corruptos, ditatoriais ou autoritários por regimes democráticos, que favoreçam a participação. É um processo que fazemos votos se amplie e se consolide, porque a “saúde” de uma comunidade política–enquanto expressa mediante a livre participação e responsabilidade de todos os cidadãos na coisa pública, a firmeza do direito e o respeito e a promoção dos direitos humanos–é condição necessária e garantia segura de desenvolvimento do “homem todo e de todos os homens”.
Nesta encíclica, este papa lembrou que “tudo o que puder favorecer a alfabetização e a educação de base, que a aprofunde e complete” “é uma contribuição direta para o verdadeiro desenvolvimento” e que estas luzes são essenciais para “discernir as próprias prioridades”, para que o povo possa “reconhecer bem as próprias necessidades, em função das condições peculiares da população, do ambiente geográfico e das tradições culturais”.
O papa combateu duramente a onda neoliberal na década perdida de 1980, quando o Brasil teve presidentes hediondos como Figueiredo e Sarney e, depois, a desgraça de Collor (continuada nos anos de Itamar e FHC).
Sobre os países do Sul (especificamente a América do Sul, África e Oceania), o papa frisou a importância de estruturas federativas ou confederativas, políticas e econômicas (governos supra-nacionais de agregação e sínteses, n. 45):
“Os países em vias de desenvolvimento de uma mesma área geográfica, sobretudo aqueles que estão incluídos sob a designação “Sul”, podem e devem constituir–como já se começa a fazer com resultados prometedores–novas organizações regionais, inspiradas em critérios de igualdade, liberdade e participação no concerto das nações”.
A Igreja luta por um Governo, um Estado latino-americano, nos moldes da União Européia, mas sem os erros neoliberais (joio) da União Européia, mantendo a parte boa, de trigo.A UNASUL (União dos povos da América do Sul), o sonho bolivariano, é o sonho católico, a aspiração, o Projeto catól
A conclusão desta encíclica de João Paulo II é clara: “os povos e as pessoas aspiram à própria libertação”; “a libertação” (destacada “em particular na América Latina”, na teologia da libertação) é “a categoria fundamental é o primeiro princípio de ação”.
A “aspiração à libertação de toda e qualquer forma de escravatura, relativa ao homem e à sociedade, é algo nobre e válido”, existindo uma “íntima conexão” entre “desenvolvimento” e “libertação”.
O “processo de libertação” está ligado à difusão da “verdade” e do “amor”, “bases de apoio” da liberdade.
A democracia é possível porque, como explicou João Paulo II na encíclica referida (n. 47), “há na pessoa humana qualidades e energias suficientes, há nela a bondade fundamental (cf. Gn 1,31), porque é imagem do Criador, colocada sob o influxo redentor de Cristo, que se uniu de certo modo a cada homem, e porque a ação eficaz do Espírito Santo enche o mundo (cf. Sb 1,7)”.
Assim, “não são justificáveis nem o desespero, nem o pessimismo, nem a passividade”, pois “o Reino de Deus já está misteriosamente presente” e incorpora e purifica “os bens da dignidade humana, da comunhão fraterna e da liberdade, ou seja, todos os bons frutos da natureza e do nosso esforço”, que serão “purificados”, “iluminados e transfigurados” no processo histórico de libertação, da parusia.
Marx usava a imagem bíblica das dores do parto, do mundo novo que está em gestação, em meio a dores, sendo esta uma imagem, uma metáfora e uma ideia bíblica.
Como Dussel e Miranda ressaltaram, os melhores textos de Marx estão repletos de idéias, metáforas e imagens bíblicas e católicas.