Como deve ser a Sociedade do futuro, liberdade e justiça, autonomia pessoal com organização social, boa síntese

Foi com base nas idéias bíblicas e também da Paidéia grega que Engels definiu a liberdade como “o domínio sobre nós mesmos e sobre o mundo exterior, fundado no conhecimento das leis necessárias da natureza” (“Anti-Dühring”, T. I), um conceito já ensinado pelos Santos Padres, por Santo Tomás ou Santo Inácio de Loyola.

Engels também escreveu:

“os homens fazem, eles mesmos, a sua história, mas até hoje, …, não o fazem com uma vontade de conjunto nem segundo um plano geral. Suas aspirações entrecruzam-se e é precisamente por isto que em todas as sociedades desse tipo reina a necessidade, da qual o acaso é o complemento e a forma sob que se manifesta” e “são os homens, pelo contrário, que fazem eles mesmos sua história, mas num meio dado que a condiciona, à base de condições reais prévias”.

O mesmo Engels, em fevereiro de 1873, escreveu um ensaio com o título “Da autoridade” (publicado em 1874, no conflito com os anarquistas), onde usou imagens (a imagem do barco em alto mar etc) e argumentos que De Maistre e Aristóteles usavam para justificar a autoridade, o Estado, a intervenção do Estado.

Para Engels, uma sociedade do futuro teria amplas liberdades e boa organização social, com estruturas públicas, com funções públicas, funções estatais, da sociedade organizada, de estratos da organização da sociedade. 

Engels elogiou corretamente a autoridade ressaltando a ligação desta ideia com a de organização (“ação combinada”, “coordenada”) da liberdade.

Engels, sobre o Estado, acrescenta que “certa autoridade, delegada como queira”, e “certa subordinação”, é imprescindível e que “a autoridade e a autonomia são coisas relativas, cujas esferas variam nas diferentes fases do desenvolvimento social”.

A “organização do futuro restringirá a autonomia até o limite estrito em que a façam inevitável as condições da produção”, ou seja, alguma forma de economia mista. Assim, “as funções públicas” serão transformadas em “simples funções administrativas chamadas a velar pelos verdadeiros interesses sociais”. Estas e outras idéias não são “marxistas”, e sim reflexos de boas e antigas verdades presentes e recepcionadas na consciência e nos textos de Marx e Engels.

Lembro que Stalin também deixou textos, no final da vida, sobre as funções do Estado que permaneceriam, numa sociedade futura.

Destaco que mesmo Bakunin e Proudhon, em suas obras, pouco lidas, esboçaram as linhas gerais de uma República, com amplo campesinato organizado livremente em cooperativas, artesões e pequenos produtores autônomos, tal como patrimônios públicos, abertos a todos (no fundo, o modelo das “Leis”, de Platão, de Moisés, de Mably, a fórmula da Igreja, do melhor da Tradição Hebraica-Semita e da Paideia). Em outros termos, uma economia mista, com eleições etc.

Bakunin chega a falar em penas leves, de pequena duração, para crimes.E fala de expulsão da sociedade, do que não aceita padrões mínimos de conduta social. O desconhecimento dos textos anarquistas é que leva a erros.

Bakunin e Proudhon, como mostrarei em outras postagens, queriam uma economia mista e há textos de Marx no mesmo sentido.

Marx mostra claramente como o capitalismo suprime a propriedade baseada na pequena produção, no trabalho próprio, e diz que numa sociedade futura, esta propriedade individual seria restabelecida (e não apenas para objetos de consumo, friso, pois isso foi uma interpretação restritiva, errada, dos melhores textos de Marx). 

Em outros textos, Marx e Engels analisam quais as funções estatais atuais serão mantidas e destacaram a importância da sociedade controlar o Estado. Nestes e em outros pontos, estavam corretos e desenvolviam idéias pré-existentes, no socialismo cristão pré-marxista, no cartismo etc.

Um bom Estado social ampliado, uma boa economia mista, erradicação das grandes fortunas privadas, erradicação da miséria, renda estatal para todos, aumento dos cargos públicos, da função social dos direitos individuais, democracia participativa-popular, distributismo (todos devem ter bens suficientes para uma vida digna, moradia etc). São estas as boas fórmulas da Tradição e da Igreja, e do melhor do pensamento socialista.