Entrevista bem espontânea de Francisco I sobre ecumenismo, boas lições

Francisco I, numa boa entrevista – “Ontem, em Madhu, vi uma coisa que nunca teria imaginado: não eram todos católicos, nem sequer a maioria. Havia budistas, muçulmanos, hindus; e todos vão lá rezar. Vão e dizem que recebem graças. Há no povo – e o povo nunca se engana – há lá o sentido do povo, há algo que os une. E se eles se sentem assim tão naturalmente unidos que vão rezar juntos a um templo – que é cristão, mas não é só cristão, porque todos o querem – por que motivo não deveria eu ir ao templo budista para os saudar? Este testemunho de ontem em Madhu é muito importante. Faz-nos compreender o sentido da inter-religiosidade que se vive no Sri Lanka: há respeito entre eles. Há grupinhos fundamentalistas, mas não estão com o povo: são elites ideológicas, mas não estão com o povo.

Depois, a ideia de que iriam para o inferno. Mas também os protestantes… Quando eu era criança – naquele tempo, há 70 anos –, todos os protestantes iam para o inferno, todos. Assim nos diziam. E recordo a primeira experiência que tive de ecumenismo. Contei-a já no outro dia aos líderes do Exército da Salvação. Tinha eu quatro ou cinco anos – mas recordo-o, estou ainda a vê-lo – e seguia pela rua com a minha avó, levava-me pela mão. No outro passeio, passavam duas mulheres do Exército de Salvação com aquele chapéu que usavam dantes com a pluma, ou algo do gênero; agora já não o usam. Perguntei à minha avó: «Avó, aquelas são freiras?» E ela disse-me isto: «Não! São protestantes, mas são boas».

Foi a primeira vez que ouvi falar bem duma pessoa doutra religião, dum protestante. Naquele tempo, na catequese, diziam-nos que iam todos para o inferno. Mas eu creio que a Igreja cresceu muito na consciência do respeito – como disse a eles, no encontro inter-religioso, em Colombo – nos valores.

Quando lemos o que nos diz o Concílio Vaticano II sobre os valores nas outras religiões – o respeito –, vemos como nisto a Igreja cresceu tanto. Sim, houve períodos obscuros na história da Igreja; devemos dizê-lo, sem vergonha, porque também nós estamos num caminho de conversão contínua: do pecado à graça, sempre. E esta inter-religiosidade como irmãos, respeitando-se sempre, é uma graça. Não sei se havia algo mais que esqueci… É tudo? Vielen danke (muito obrigado)”.