Intervenção estatal e estatais são coisas hiper Tradicionais, conservadoras e antigas

Ampla intervenção estatal na economia e estatais são mais velhas que a Sé de Braga, são milenares. Sempre existiram. Existiram nos mais antigos povos, na Suméria (nas cidades-estados), no Egito, entre os judeus, entre os fenícios, entre os gregos e romanos. E em cada aldeia indígena, onde parte dos meios de produção são comuns, como a terra e boa parte do produto da caça, das colheitas etc. 

A ideia dos ateliers (fábricas) nacionais não vem de Buchez ou de Louis Blanc. Antes, houve as manufaturas e fábricas estatais, reais, realengas, criadas por pessoas como Colbert e durante todo o absolutismo e na Idade Média. No Brasil, o padre Vieira conseguiu que vários produtos fossem monopólios de estatais, do Estado, defendendo um capitalismo de Estado. O padre Vieira, o maior orador português, defendeu os índios e também os escravos negros, nas plantações de açúcar.

Dom João VI criou fábricas estatais de siderurgia, tal como criou o Banco do Brasil. Várias estatais que temos vem de 1808 e durante o século XIX.

Na França, até hoje, há estatais criadas por Colbert, fábricas estatais de tapetes e confecções finas.

A ideia de estatizar não é algo marxista. Marx aprendeu as ideias de estatização com o católico Saint Simon, os cameralistas, com Hegel e outros teóricos pró Estado, como Rodbertus. 

A abolição mesmo foi uma ampla intervenção estatal a favor dos escravos, dos trabalhadores.

O amparo estatal à colonização, mesmo sendo desleal contra os negros, por beneficiar somente trabalhadores rurais da Itália, da Alemanha, de Portugal, da Espanha etc, foi uma grande operação estatal a favor de trabalhadores rurais, um esboço do que deve ser a reforma agrária (o erro foi não beneficiar os negros, o que gerou ampla dívida nacional em relação aos negros).

O correto seria o Estado ter apoiado a colonização por trabalhadores negros, africanos e também ter apoiado a vinda dos trabalhadores italianos, alemães, ucranianos, poloneses, japoneses, espanhóis etc. Isso teria gerado uma agricultura não latifundiária, baseada em ampla intervenção estatal, cooperativismo, regras públicas, semi-pública, economia misto. 

A operação de valorização do café, mesmo sendo algo que beneficiou principalmente latifundiários, teve pontos corretos, pois valorizou a produção de um ativo nacional, gerando divisas. Outro erro foi basear a valorização em empréstimos internacionais com banqueiros privados, inescrupulosos e sanguessugas. O correto seria valorizar beneficiando os trabalhadores, cooperativas rurais, nos moldes da OPEP, mas usando bancos públicos estatais ou da ONU, para assegurar financiamento com juros pequenos (ou mesmo negativos, em alguns casos). 

Na Idade Média, no campo, existiam vilas com áreas comuns de plantio, áreas de pouso, moinhos comuns para moer grãos, canais comuns, estradas comuns etc. Nas cidades, os artesãos se organizavam em corporações, cooperativas amplas, que tinham ligação com o Estado (os Municípios), controles públicos dos preços, das formas de produção, regras públicas para todas as atividades econômicas importantes. 

Na Antiguidade, o modo de produção asiático é amplamente estatal, com imensa intervenção do Estado na economia, ponto que Marx descreveu em alguns bons textos. 

Conclusão: apoiar a ampla intervenção estatal na economia, estatais e Estado amplo não é algo marxista, e sim algo hiper tradicional, conservador,