Solidarismo de Pesch, Renouvier, Bourgeois, Péguy, Mounier. Democracia popular, economia mista, Estado social.

As idéias cristãs e racionais de controle consciente sobre a vida, destino, a natureza e a sociedade influenciaram inclusive o radicalismo de Alain (1868-1951), que queria “a fiscalização permanente” do povo sobre “o poder”, para que este estivesse sobre controle do povo organizado, para assegurar a todos o bem comum.

Alain seguia os passos do católico Lord Acton. Os dois, tal como Tocqueville (outro grande católico), queriam o poder descentralizado, difundido na sociedade, controlado pela sociedade.

Alain elogiava a pequena propriedade pessoal, o campesinato, os artesãos e a pequena burguesia (especialmente a “provinciana”, do interior,). O amor ao campesinato e à pequena burguesia provinciana formam a base social do ruralismo radical, ficando, também neste ponto, bem claro a influência das idéias católicas, que tem o mesmo apreço pela difusão dos bens.

Pequena burguesia (micro, pequenas e médias empresas familiares), camponeses, artesões, profissionais liberais, técnicos, intelectuais, servidores, clero etc são parte essencial de uma boa sociedade, junto com o operariado, as estatais, as cooperativas, sindicatos etc. 

O velho Alain ensinou corretamente que “resistência” (às leis iníquas) e “obediência” (às leis justas) voluntária são as bases do bom equilíbrio da sociedade. Ensinou que “os negócios públicos” devem destinados ao interesse geral ou, pelo menos, da maioria. Os livros de Alain deveriam ser traduzidos, especialmente “O cidadão contra os poderes”.

Entre os radicais, houve também Édouard Herriot, amigo de João XXIII e que se converteu. Os radicais seguiam a linha de autores com religiosidade, como Lamartine, Camille Pelletan, Ledru-Rollin, Benjamin Constant e mesmo Voltaire. Seguiam também Condorcet, que era jusnaturalista.

As idéias cristãs também formam a parte principal do solidarismo de Leon Bourgeois, que queria “organizar política e socialmente a sociedade segundo as leis da razão”, com base numa ética solidária, baseada no bem comum.

Bourgeois foi influenciado pelas idéias de Charles Renouvier (1815-1903), autor de livros como “Manual republicano do homem e do cidadão”, “Ciência da moral” (1869) e “O personalismo” (1902). Renouvier foi o principal ideólogo da 3ª República Francesa e defendia uma linha republicana fortemente teísta, inspirada no jusnaturalismo de Kant. O padre jesuíta Karl Rahner mostrou a importância dos textos magistrais de Kant, e a conciliação de seus melhores textos com a Igreja. Idem para Hegel, filósofo cristão, mais próximo do luteranismo e do catolicismo que do calvinismo. 

O republicanismo social, cristão e religioso formava a base teórica principal da 2ª. e da 3ª. República, na França (apesar do anticlericalismo de Gambetta, Jules Ferry e outros). Há forte religiosidade inclusive nos textos magníficos de Pierre Larousse.

Há a mesma linha nos livros de Lachelier (1832-1918) e, principalmente, no grande Foillée (1832-1912), autor de “A idéia moderna do direito” (1878).

Foillée esboçou uma síntese entre catolicismo e democracia que foi muito importante em sua época. Seus livros merecem leitura até hoje, especialmente as obras sobre a história da filosofia e a filosofia do direito.

Lenin emitiu os seguintes juízos sobre Renouvier: “é a cabeça visível da escola dos chamados neocriticistas, muito influente e muita estendida na França”, “o clero católico está encantado com tal filosofia” (cf. “Materialismo e empiriocriticismo”).

O juiz Paul Magnaud, o “bom juiz”, também é outra linha claramente jusnaturalista e extremamente próxima do catolicismo.

Charles Péguy e Mounier são outras flores cristãs destas correntes. Mounier chegou a usar o termo “personalismo”, a mesma palavra-síntese usada por Renouvier e também pelo oratoriano, Lucien Laberthonnière (1860-1932), autor do livro “Esboço de uma filosofia personalista”, baseado nas idéias de Pierre Bérulle (1575-1629).

Da mesma forma, Pesch usou o termo-símbolo solidarismo, usado, antes, por Bourgeois.

Nada disso ocorreu à toa, sem razão. Demonstram, claramente, a existência de conteúdos comuns entre catolicismo, solidarismo, democracia popular-social e radicalismo. Isto também ficou evidente na Argentina, com o católico Hipólito Yrigoyen, precursor do católico Péron. Radicalismo e peronismo (uma forma de trabalhismo) têm fontes cristãs evidentes, como também fica claro na figura de Eva Perón, a madrinha católica dos montoneros.

No fundo, as melhores idéias do radicalismo, do peronismo e dos montoneros (peronistas de esquerda) buscam um Estado popular democrático, não-capitalista, dos trabalhadores, do povo. Democracia popular, Estado social, distributismo, economia mista. Boas ideias.