O Cardeal e beato Newman, um grande católico inglês, ensinou que “a obediência à consciência” (seguir a consciência pessoal, a própria consciência) é a base da “obediência ao Evangelho” e isso também vale para a obediência ao Estado, às leis, aos pais e a qualquer norma, tudo está sujeito ao crivo da consciência pessoal. Religião verdadeira e Estado correto não tiram a liberdade, pois não ferem a consciência das pessoas, já que a verdadeira religião e o Estado como deve ser nunca são irracionais, arbitrários.
O Cardeal Newman destacou que a religião de Cristo “em vez de ser algo diferente, outra coisa não é senão a complementação e perfeição daquela religião [natural] que ensina a consciência natural” (lição de Newman, no texto “Parochial and Plain Sermons”, Londres, 1908, vol. VIII, p. 202).
Chesterton, Hillaire Belloc e Alceu Amoroso Lima apenas desenvolveram estas idéias mestras. Ideias que estão na Bíblia, foram bem clarificadas por São Clemente de Alexandria, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, São Tomás Becker, São Tomás Morus, Santo Afonso de Ligório, Santo Inácio de Loyola, São Francisco de Assis e outros luminares da Igreja.
Por estas ideias, Oscar Wilde, no final da vida, se tornou católico. Viu claramente que o catolicismo não feria a arte, a vida, a consciência das pessoas.
A consciência natural está na base da própria Igreja, da religião e também do poder público. Isto ocorre porque a “graça” visa complementar à “natureza”, proteger, melhorar a natureza humana e geral, o Universo. O Céu é também a plenitude deste Universo, é este Universo, melhorado, com vida eterna (como diz a Bíblia – “eis que faço nova todas as coisas”, “novos Céus, nova terra”, renovando este universo, e nunca o destruindo. O Universo irá evoluindo eternamente, evolução eterna, movimento eterno, vida eterna.
A graça não elimina a natureza, e sim a aperfeiçoa, cf. Pio XII, em 12.12.1952).
Da mesma forma, a “razão” é harmônica com “a fé” e os sacramentos são meios de aperfeiçoamento das forças naturais, são meios de elevação, de “santificação”, de aperfeiçoamento da natureza, especialmente da consciência natural das pessoas (são meios de “purificar a consciência”, de “fortalecer a vontade”, cf. Pio XII, em 29.06.1943). Purificar é melhorar a consciência, aperfeiçoar, separar joio do trigo, coar, elevar, melhorismo.
Newman destacou “os plenos direitos da consciência”, que constituem o fundamento da “autoridade”. Todo ato estatal só é legítimo se estiver em adequação com o conteúdo da consciência das pessoas, com a consciência do povo, das pessoas.
Os ditames estatais só constituem obrigações, só nos obrigam em consciência, se forem racionais e pautados pelo bem comum.
Newman destacou que a seguir a própria consciência é a definição correta da própria “liberdade”, o que mostra que a liberdade vem antes da autoridade, como ensinou Alceu Amoroso Lima.
O amor de Newman ao diálogo também levou João Paulo II a destacar que Newman foi também precursor do ecumenismo (Yves Congar citava de cor o testamento espiritual de Newman), do “caminho ecumênico”, ordenado por Cristo (cf. Jo 17,21).