O núcleo das idéias de Harold Laski aponta na direção também de uma síntese entre religião, razão, socialismo e democracia
Harold Laski, no livro “Fé, razão e civilização” (Rio de Janeiro, Ed. José Olympio, 1946, tradução da obra escrita em 1943), no prefácio para a tradução brasileira, diz que o livro “foi concebido como argumento para a reconstrução da fé; de uma fé modelada pela razão e, como tal, a única correspondente à dignidade imanente do homem”. É exatamente a tese deste meu blog e do próprio Vaticano I, de 1869/1870, tal como o de Trento e o Vaticano II, abonam esta tese.
Para Laski, após a II Guerra Mundial, a tarefa principal era “tornar os benefícios da civilização acessíveis ao homem do povo, ao homem comum”. Por isso, ele clamava “por um novo humanismo que, dá satisfação, em todo o mundo, às necessidades elementares do homem, construa a capacidade de reconhecer e utilizar o que há de mais nobre no caráter espiritual dos homens” e ressaltava que este “esforço” (de elaborar um humanismo e uma “sociedade racional e justa”) era “quase tão velho quanto a própria filosofia, pois que remonta aos antigos gregos; em certo sentido, transparece também na sabedoria dos profetas, tanto chineses como hebreus, tanto hindus como cristãos”. Estava corretíssimo. Laski era judeu e conservou seu fundo hebraico, explicitando corretamente os fundamentos democráticos presentes no judaísmo e no catolicismo. Os Kennedy gostavam de Harold Laski e partes das coisas boas do Partido Democrático nos EUA tem origem no Trabalhismo ingles e europeu.
No livro acima referido, Laski elogia o cristianismo, o New Deal de Roosevelt, o Partido Trabalhista inglês, “o socialismo cristão dentro da Igreja anglicana no decorrer do século XIX, desde John Frederic Denison Maurice (1805-1872), passando por Westcott, até o bispo Gore e… Scott-Holland”. Também elogia George Lansbury e constata que “o anglicanismo, sob o seu aspecto católico, tendesse para uma configuração socialista”. Maurice foi o líder do movimento socialista cristão na Inglaterra e lecionava filosofia moral, na Universidade de Cambridge (sede do antigo movimento dos platônicos de Cambridge, próximos ao catolicismo).
Mais adiante, escreveu: “a Igreja Católica Romana tem tido, naturalmente, as suas profundas manifestações de tendência socialista” (p. 106), elogiando Lamennais. Também reconheceu que “a Igreja Católica Romana” apoiou “aqui ou acolá, sindicatos profissionais ou o seu tipo peculiar de socialismo”. Critica os cristãos pela pouco esforço em “procurar comunicar a moral dos Evangelhos às sociedades que tem visado dominar”. Tem palavras duras contra a parte do clero que se corrompeu pela aliança com a burguesia. Sobre Leão XIII, ressalta o “semi-liberalismo”, o lado democrático popular deste Papa.