O trabalhismo, a melhor corrente socialista

Alceu ensinava, no jornal “Coojornal”, de julho de 1977, que a sociedade, titular do bem comum (dos bens, do poder etc), tem o “direito” e também “o dever de intervir, dirigir” e “distribuir a economia”, os bens, de acordo com as necessidades de cada pessoa. Cabe a sociedade, principalmente por via do Estado, difundir os bens, realizar o princípio do bem comum, da destinação dos bens, da difusão dos bens. 

No mesmo sentido, John Strachey, do Partido Trabalhista inglês, no livro “Porque voce deve ser socialista” (1938), desenvolveu um capítulo onde relata um debate com um sacerdote católico. Strachey diz ao padre que “minha queixa principal contra o capitalismo era que ele privava a maior parte do povo britânico de qualquer propriedade privada e pessoal”, proletarizando a população.

Strachey e o Partido Trabalhista distinguiam entre os grandes meios de produção (que deveriam ser estatais ou em formas de cooperativas sujeitas a estritas formas de planejamento estatal) e a “a propriedade pessoal” (casas, veículos econômicos, alimentos, roupas, móveis e mesmo somas módicas de dinheiro), que deve ser difundida, universalizada, espalhada, picada e difundida (como uma “morcilla”, morcilismo, distributismo, uma linguiça, um naco para cada um, na medida das necessidades de cada um, para dar a todos uma vida digna, plena e abundante).

O trabalhismo inglês defende uma forma de socialismo democrático e cristão. Nasceu das lutas dos irlandeses católicos e dos cartistas, de homens como William Cobbett (um grande católico elogiadíssimo por Marx) e outros líderes cristãos. Mais tarde, este movimento gerou o Partido Trabalhista, com James Keir Hardie (1856-1915) e outros socialistas cristãos. A Igreja Católica, no Reino Unido, admitiu a militância dos católicos neste partido socialista, desde a década de 20 do século XX. O trabalhismo inglês está na base do trabalhismo brasileiro, tendo sido adotado por Getúlio Vargas e pelo PTB.

O socialismo democrático deveria “aumentar vastamente” as propriedades pessoais moderadas, difundindo para todos. Deve aplicar mecanismos como a renda cidadã ou imposto de renda negativo, onde o Estado deve assegurar a cada pessoa uma receita (uma renda, uma soma em dinheiro), independente de trabalho, para que esta atenda às necessidades básicas, fundamentais. Deve também REDUZIR DRASTICAMENTE A JORNADA DE TRABALHO, AUMENTANDO AS RENDAS DO TRABALHO, os direitos dos trabalhadores. O primado do trabalho é um dos princípios fundamentais do trabalhismo, tal como a destinação universal dos bens (como está no Genesis, Deus criou os bens para todos, para que todos pudessem gerir os bens, administrar e fruir os bens, criados para todos).

O projeto de socialismo do grande Hobson também tinha esta base. Basicamente, esta foi também a fórmula de Pio XI, na “Quadragesimo anno”, elogiada por Domingos Velasco, Leônidas de Rezende e nossos melhores positivistas, como o general Horta Barbosa (general que se tornou general por causa de pedido pessoal do pai de Getúlio a Getúlio, amigo pessoal de Vargas).

Pio XI foi bem claro, na “Quadragesimo anno”, em 1931: os meios de produção e os bens que acarretassem excesso de poder, gerando tiranias na ordem econômica e política, deveriam ser estatizados ou socializados na forma de cooperativas com amplos controles e planos públicos, numa co-gestão com a sociedade, com o Estado. O Estado deve assegurar a circulação de bens entre todos, em todas as células da sociedade, irrigando com a seiva, o sangue, com os bens necessários e suficientes para uma vida plena.