Uma boa análise de Gramsci sobre o catolicismo em prol da democracia popular

Gramsci lembra que vários católicos aceitaram “fazer parte do Gabinete de unidade nacional de Herriot”, buscando uma democracia popular, e que “também aceitara colaborar com Herriot o chefe do grupo católico parlamentar francês, formado pouco antes. Estes católicos organizaram a Semana Social de Nancy de 1927”. Esta Semana, no documento final, teve “conclusões favoráveis a uma maior participação feminina na vida política” e estas conclusões “foram aprovadas pelo Cardeal Pietro Gasparri (1852-1934), em nome de Pio IX” (ver estes textos no livro de Gramsci, “Cadernos do cárcere”, vol. IV, Rio de Janeiro, Ed. Civilização Brasileira, 2001, p. 195).

O Cardeal Pietro Gasparri (1852-1934), de família pobre de pastores da região central da Itália, foi quase Papa, quando terminou o papado de Bento XVI. Praticamente elegeu Pio XI. Foi Secretário de Estado (equivalente a Ministro das Relações Exteriores) do Vaticano, nos papados de Bento XV e Pio XI (até 1930, quando tinha quase 80 anos). Era baixo e gordo, com bom senso de humor, nos moldes de João XXIII.  No século XX, a Igreja começou uma tendência, onde um Papa nomeia um núncio ou cardeal como Secretário de Estado e este tende a ser o próximo Papa, se for aprovado nos Conclaves. 

Gramsci constatou corretamente que entre os integristas e os modernistas, o Papa moveu-se numa linha média, a dos “jesuítas”. Também apontou que a aliança informal com os radicais de Herriot era a mesma do Partido Popular do padre Luigi Sturzo, na Itália e em parte a linha do Partido do Centro (basta ver Luís Windthorst, elogiado por Pio X, em 12.07.1912), na Alemanha. Na Bélgica, havia o mesmo movimento.

Ou seja, a Igreja não aceitava capitalismo, comunismo, nazismo ou fascismo. Queria um governo popular, uma democracia popular, pregada por Sturzo, na Itália, no Partido Popular, quase tão grande quanto o Partido Socialista, em linha próxima. Na Inglaterra, os católicos votavam principalmente nos partidos trabalhistas. Nos EUA, no Partido Democrático. O Partido do Centro, na Alemanha, queria um Estado popular, dedicado ao bem comum, ao bem estar social do povo, com amplos direitos sociais. O mesmo na Bélgica.  

Conclusão: com Pio XI, especialmente com a mediação da Ação Católica (liderada, no Brasil, por Alceu Amoroso Lima, da linha de Maritain), vence a linha média, esposada pelos jesuítas e outros expoentes. Gramsci constatou que “os jesuítas foram, indubitavelmente, os maiores artífices deste equilíbrio e, para conservá-los, eles imprimiram à Igreja um movimento progressivo que tende a satisfazer parcialmente as exigências da ciência e da filosofia”.