Os trabalhistas e a Igreja, união desde o início

James Keir Hardie, Ramsay MacDonald, Wells, Bernard Shaw, os Webb e o sobrinho destes, Stafford Cripps e outros grandes políticos trabalhistas ingleses eram socialistas e também pessoas religiosas, demonstrando, pela prática, que não há contradição alguma nestas idéias.

Cripps, o sobrinho dos Webb, dirigiu o Partido Trabalhista, e foi um dos políticos mais influenciados pelo cristianismo, tal como foi Clement Attlee. Desde o inicio, os bispos católicos ingleses liberaram os leigos para participarem do Partido Trabalhista, mesmo sendo este um partido socialista. Uma boa parte, a maior parte, dos anglicanos tendem ao trabalhismo. Católicos e anglicanos, em geral, são pessoas de esquerda. 

Os socialistas cristãos controlaram o Partido trabalhista Independente desde o início, basta considerar James Keir Hardie, Philip Snowden, Bem Tillett, Tom Mann, Katharine Glasier, Margaret MacMillan e Rachel MacMil. Esta corrente influenciou, também, os líderes do partido socialista americano, especialmente Thomas Normando e Upton Sinclair.

O Cardeal Bourne, arcebispo católico de Westminster, deixou claro, em 1925, que os católicos podiam licitamente filiar-se no partido trabalhista, que era socialista.

Da mesma forma, autores como William Ewart Gladstone (1809-1898, adepto de um anglicanismo próximo do catolicismo, mas tendo escrito textos duros contra Roma), David George Lloyd (criou o Ministério da Saúde, na Inglaterra), Lytton Strachey (socialista) e outros, apesar de alguns erros liberais graves (em Gladstone, principalmente), tiveram o mérito de lutar pela democratização de seus países, aceitando algumas reformas sociais. Lloyd também estendeu à mão aos católicos irlandeses, liderados por homens como Michael Collins e Eamon de Valera, aceitando a tese da “home rule”, em 1921.

O velho Gladstone, tão estimado por Rui Barbosa, lutou por reformas como o voto secreto nas eleições, a ampliação do eleitorado no sentido do voto universal etc. Um grande anarquista, como Anselmo Lorenzo, mostra o apreço por Lloyd George, pois, no final de seu livro autobiográfico, “El proletariado militante” (Madrid, Alianza Editorial, 1974, p. 441), Lorenzo escreveu:

Eis aqui o que diz Lloyd George, presidente do ministério inglês, em recente documento:

“A independência econômica é a essência da independência econômica dos trabalhadores da Inglaterra; mas não o conseguiremos enquanto subsista o feudalismo. Temos em nosso país 2.500 latifúndios que são os amos dos dois terços do território; pior ainda, posto que em virtude dessa apropriação possuem e exercitam pleno governo, domínio e poder sobre as vidas”.

O trabalhismo inglês era – e em alguns pontos ainda é, apesar do servilismo e das traições de Tony Blair em relação a Busch – uma forma de socialismo humanista e democrático de Democracia popular, com economia mista, bem próximo do catolicismo. O trabalhismo (uma forma de socialismo democrático, de fundo cristão) repercutiu no mundo todo, especialmente na Austrália, na Nova Zelândia, nos países escandinavos (Suécia, Noruega, Finlandia, Islandia e Dinamarca), na Índia e também repercutiu no Brasil, no trabalhismo de Getúlio Vargas, do PTB, tal como em Brizola, no PDT. Esta foi a linha do grande Getúlio Vargas, nacionalista, trabalhista, em prol de uma democracia popular, de um socialismo democrático. O mesmo para Peron, na Argentina. 

Estas idéias foram esposadas por grandes escritores como Luís Pinto Ferreira, na cátedra de Direito Constitucional, na Faculdade de Direito de Recife. Pinto Ferreira era católico, socialista, nacionalista, profundamente democrata e trabalhista. O trabalhismo era também ecumênico, pois congregava pensadores como Harold Laski, pastores, católicos etc.