O ideal histórico da Igreja é um grande Estado social, uma boa democracia popular

A noção de “ideal histórico” da Igreja foi formulada principalmente por Maritain. No Brasil, os “maritainistas” principais foram homens como Alceu, Afrânio Peixoto e centenas de outros. Na década de 40, adaptaram a estrutura da Ação Católica ao modelo francês e belga, dividindo a Ação Católica em grupos, como a Ação Operária, a JUC, a JOC e outros. Isso já ocorria mesmo na República velha, com homens como Rui Barbosa, Joaquim Nabuco (o maior dos abolicionistas) e outros. 

O grupo que gerou a TFP e que a geriu no tempo de Plínio Correia de Oliveira combateu a influência de Maritain e foi vencida, pois o bispos preferiram o modelo francês. Em 1952, com a participação principal de Dom Hélder e do Núncio Lombardi, a Igreja fortaleceu a caminhada para uma democracia popular, participativa e social.

A expressão “ideal histórico” foi formulada com mais precisão no documento “Diretrizes mínimas para o ideal histórico do povo brasileiro”, elaborado pela JUC, em seu Congresso dos 10 anos, com cerca de 500 representantes de todo o Brasil (especialmente MG, RJ e BA), no Rio de Janeiro, em 1960. Neste documento, já havia a opção por uma forma de “socialismo democrático”, unindo democracia, trabalhismo, nacionalismo e socialismo.

Os líderes da JUC eram homens como Betinho, Vinícius Caldeira Brant, Henrique Novais, Aldo Rebelo, Frei Mateus, padre Francisco Lage Pessoa (ver reportagem “Cristo e Marx”, na revista “Manchete”, n. 492, de 23.09.1961, pp. 96-99), Frei Carlos Josaphat, padre Henrique Cláudio de Lima Vaz, Frei Romeu Dale e outros. A JUC assumiu a direção da UNE, no final da década de 50 e início dos anos 60, no século XX.

No “Boletim da JUC” (n. 4, I), há um texto com o título “O ideal histórico”, onde está bem explicada a noção de “ideal histórico”: “é absolutamente necessário em vista de um engajamento cristão eficaz na ordem temporal, que se faça ampla e cuidadosa reflexão sobre as realidades históricas concretas à luz dos princípios universais (…), em busca da fixação de certos princípios médios que exprimem o que se pode chamar de ideal histórico cristão”.

O ponto central são os princípios fundamentais (“estruturantes”, universais, gerais de ética e de direito), dos quais decorrem os princípios médios, mais concretos, que configuram o ideal histórico. A formulação e a concretização cabem principalmente aos leigos.

A JUC e a Pastoral Operária, especialmente a JOC (e também os Círculos Operários e a própria CLAT), exigiam uma economia socializada, mista, sem milionários, mas com o máximo possível de participação, de auto-gestão e co-gestão, em todos os níveis. Ou seja, uma forma de socialismo cooperativista, de democracia econômica, popular. Por exemplo, na França, este ideal foi defendido por Buchez, Lamennais, Lacordaire, Péguy, Marc Sangnier, Mounier, o abade Pierre, e também por Georges Montaron, dirigente nacional da JOC de 1940 a 1947 que defendia uma forma humanista de socialismo como concretização (concreção) dos princípios éticos racionais e também ensinados pela religião. A JOC, na França, nos anos de 1970 a 1990, esposou explicitamente a causa socialista democrática, lutando por uma democracia popular.