As lições de Pio XII, no Natal de 1945 e no Natal de 1947. Alceu vibrava com estas lições

Pio XII, na Mensagem de Natal de 1947, ensinava que “a força do direito” é o ponto essencial na gestão e organização do Estado, e não “o direito da força”. Na Mensagem de Natal, de 1945, este papa, que tinha 1,82 e 55 quilos, condenou “o poder do dinheiro”, que “cria artificialmente” “uma arbitrária censura, de juízos unilaterais e falsas afirmações”, maculando a verdadeira “opinião pública”, que é a formada pelas idéias gerais e difusas em cada consciência. Bom ataque à oligarquia da mídia. A oligarquia da mídia, no Brasil, é das piores do mundo. 

Este pontífice, ainda no Natal de 1947, elogiava “a verdadeira e grande maioria, formada por todos aqueles que vivem honrada e pacificamente do seu trabalho e com suas famílias”. Esta “grande maioria dos bons pais e mães de família, que querem proteger e defender o porvir de seus próprios filhos contra as pretensões de toda política de pura força, contra os arbítrios do totalitarismo”. Disse, ainda, que “a superfície inteira do globo, manchada com o sangue derramado nestes terríveis anos, proclama bem alto a tirania” do “Estado totalitário”. Pio XII condenou “o totalitarismo” e “o absolutismo”, como algo “contrário à dignidade e ao bem do gênero humano”.

A condenação ao totalitarismo e ao absolutismo foi feita com base num fundamento primário e essencial: “segundo a ordenação divina, o senhor do mundo não é nem a vontade nem a potência de fortuitos grupos de interesses, mas o homem do meio da família e da sociedade, com seu trabalho”.

O papa acrescentou, ainda, que “o totalitarismo falha no que é a única medida do progresso, que é criar sempre maiores e melhores condições públicas [sociais, jurídicas, econômicas etc] para que a família possa existir e desenvolver-se como uma unidade econômica, jurídica, moral e religiosa”. Cada pessoa, cada família, tal como as associações de famílias, devem “desenvolver-se” com autonomia, como uma unidade própria e independente (livre), com vida própria. Este é o fundamento do que Pio XII chamava de “uma verdadeira e sã democracia”. Como ensinava também Getúlio Vargas, todos devemos ter independência econômica, sendo esta essencial à vida digna e feliz. 

O ponto central seria “excluir toda opressão e todo o arbítrio, tanto de dentro como de fora” (toda opressão interna e externa, ponto ressaltado também pela teologia da libertação). Por isso, Pio XII ensinava, em crítica dura à opressão nazista contra as pequenas nações, que:

As nações, especialmente as médias e pequenas, reclamam que lhes seja dado tomar nas próprias mãos os seus destinos. Elas podem ser orientadas a contraírem, com o contentamento pleno delas, no interesse do progresso comum, vínculos que modificam seus direitos soberanos. Mas depois de haverem mantidos suas partes, suas vastas partes, de sacrifícios para destruírem o sistema da violência brutal [o nazismo], têm o direito de não aceitarem que lhes seja imposto um novo sistema político e cultural, que a grande maioria de suas populações decididamente repele” (cf. “Pio XII e os problemas do mundo moderno”, p. 276).

Conclusão: o elogio do homem comum, da “verdadeira e grande maioria”, foi feito, em vários textos, por Pio XII, tal como por Franklin Roosevelt e outros autores. Para Pio XII, a “grande maioria” da sociedade é que deve ter a primazia no controle do Estado, sendo este o antídoto contra guerras e opressões.