A teoria dos preços dos grandes católicos é uma teoria de economia mista, de controle, dirigismo

A teoria consensual sobre o poder político, adotada pela doutrina social da Igreja, é apenas um desdobramento da teoria sobre o direito e a ética, aplicando-se também aos preços, ao domínio eminente da sociedade, à moeda etc. A teoria do preço justo e também sobre a moeda, de Nicolas Oresme (1320-1382), “De l´origine, nature et mutation dês monnaies” (“Da origem, natureza e mutação das moedas”) tem a mesma base.

Como ensinavam os escolásticos, os preços dos bens e serviços (dos bens) devem ser fixados pela ética (justum pretium, ou seja, pelo povo), tendo como bases a “estimativa geral” (communis estimatio) do povo, estima esta apurada por representantes do povo (na Idade Média, esta fixação dos preços mais importantes era feita pelo município com base numa representação dos grêmios, das corporações de artes e ofícios). Estes representantes usavam como critérios para a fixação dos preços: 1º) a remuneração dos trabalhadores, considerando que o trabalho é a causa eficiente da produção (cf. Leão XIII), incluindo nesta rubrica o ganho do dono; 2º) o ressarcimento das despesas; e 3º) a utilidade média dos bens (“utilitate media rerum”), correlativa às necessidades médias da sociedade.

A utilidade média dos bens se aplica também ao trabalho, por isso, os canonistas e escolásticos recomendavam usar a medida do trabalho médio (labore medio). Frise-se que a doutrina da Igreja sempre defendeu a tese que o Estado pode e deve fixar os preços dos bens principais. Platão, no livro “A República” (X, 602 a), já ensinava que “a utilidade é a medida do bem”; e Aristóteles, nos livros “Política” e “Ética a Nicômaco” ensinavam que as trocas devem ser justas, de acordo com a justiça comutativa, pois se esta fosse violada haveria usura (mais-valia).

A utilidade média dos bens e do trabalho depende da estima comum, da consciência das pessoas. Logo, faz parte da soberania de um povo a fixação dos preços e a regulamentação pública participativa da distribuição e do uso dos bens, tal como do modo de produção.

Neste mesmo sentido, Engels escreveu que “serão as utilidades (efeitos úteis, valor de uso) de diferentes produtos, comparadas umas às outras e às quantidades de trabalho necessárias para sua produção, que determinarão o plano”. Bettelheim resumiu isso escrevendo que os “produtores associados”, ao fazerem seus planos, terão como norte o “efeito socialmente útil” dos diferente produtos e também dos trabalhos concretos. E tudo isso é perfeitamente compatível com o máximo distributismo, com difusão de bens pequenos e médios para cada família, com a máxima desproletarização da sociedade, com o fim da miséria e da opulência, com a máxima mediania, classe média ampla, como recomendavam Aristóteles, Sócrates, Platão, Confúcio, os textos bíblicos, os textos estoicos, os textos budistas, os textos da Igreja, a ética muçulmana etc.