Até em São Pio X, há ótimos textos sobre doutrina social da Igreja

Há bons textos de Pio X, com boas idéias cristãs sobre o poder. Por exemplo, na “Iucunda Sane” (12.03.1904), em homenagem a São Gregório Magno (540-604 d.C.), Pio X ensinou que “nas disciplinas morais” o principal é “a observância sempre mais perfeita da lei natural inscrita nos corações”, que assegure “sempre maior bem-estar do indivíduo, da família e de toda a sociedade”.

Pio X recordava “a todos” “a necessidade absoluta” de percorrer “o correto caminho da razão”, nutrir-se da “verdade”, para obter “a paz e a felicidade nesta vida terrena”. A ação divina visa “ajudar” “os que aspiram ao bem, para que o caminho do céu se abra mais largamente”. A tarefa humana é realizar “todo o bem possível no presente”, atuar sempre “para proveito da sociedade civil”.

São Pio X elogiou São Gregório Magno porque “opôs-se energicamente às injustiças dos imperadores bizantinos; rebateu as audácias” “dos exarcas e oficiais imperiais, erguendo-se publicamente em defesa da justiça social”. A pregação da Igreja visa promover “tudo o que é verdadeiro, bom e belo na ordem natural”. Na “Iamdudum in Lusitania”, Pio X destaca a importância das pessoas que “detêm o poder” de “se dedicarem de modo racional à sua função”, de todos procurarem “o máximo consenso e a concórdia”, para “a salvação da pátria”. Leão XIII também cita São Gregório Magno, no capítulo 16 da “Rerum”.

São Gregório Magno (540-604 d.C.) foi um dos maiores papas da Igreja, tendo, como um dos feitos, a ampliação da difusão do cristianismo na Inglaterra, com a criação da Sé de Cantuária. Escreveu obras como “As Morais” (baseado no comentário do livro de Jó), “Diálogos”, o “Livro da Regra Pastoral”, “Homílias sobre o Evangelho”, umas 900 cartas e “Homílias sobre Ezequiel”. São Gregório foi muito incisivo sobre o princípio da destinação universal dos bens; a concepção da propriedade como administração, gestão, uso para atender às necessidades pessoais e sociais; a comunhão; e a função social dos bens, ou seja, o domínio eminente da sociedade, que pode controlar a distribuição, o uso e o consumo dos bens, para assegurar a todos vida plena.

Conclusão: “a autoridade” legítima é baseada na “participação”, no diálogo, na comunhão. A sociedade boa é a que mais encarna o “Reino de Deus”, que é uma República racional e pautada pelo bem comum, pelo bem universal.