Prestes terminou por apoiar o getulismo popular, o trabalhismo

Numa entrevista no programa “Pinga fogo”, da TV Tupi, publicada na revista “Novos Rumos”, de 24 a 30.01.1964, Luiz Carlos Prestes reconhece que “o sr. Getúlio vargas incontestavelmente adquiriu prestígio popular por uma série de medidas favoráveis ao povo, inclusive à classe operária, tomadas durante o seu governo. O sr. Getúlio Vargas, particularmente a partir de 1935 e 1937, representou em grande parte os interesses da burguesia nacional, lutou pelo desenvolvimento econômico do país, implantando a siderurgia e, posteriormente, já no seu segundo governo, criando a Petrobrás”. Reconheceu também que o povo estava certo ao eleger Getúlio em 1950, enquanto “nós, comunistas, em 1950, votamos contra a candidatura do sr. Getúlio Vargas”.

O mesmo erro foi cometido por Prestes, em 1930, quando deveria ter apoiado Getúlio, para enterrar a República velha.

Sobre os católicos, disse:

Temos aliados entre os católicos. Por exemplo, há muitos anos que os comunistas e católicos, aliados, dirigem a UNE. É uma aliança leal, sincera, cordial, porque há entre nós um terreno comum, embora haja divergências. (…). Hoje, mesmo entre o alto clero, há homens progressistas. O próprio Cardeal de São Paulo, dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, um patriota que tem revelado posições inclusive simpáticas ao nacionalismo… Essa divisão [o certo seria esta boa tendência] vai se acentuar e o número de católicos, inclusive padres, que virão participar do processo revolucionário brasileiro vai aumentar nos próximos anos”.

Prestes, em várias entrevistas, lembrou que os comunistas apoiaram a candidatura de Juscelino em 1955, dando continuidade ao segundo governo de Getúlio, de 1950 a 1954. Tal como Prestes e o PCB apoiaram a candidatura do católico e trabalhista Marechal Lott em 1960, também continuador do getulismo. O mesmo ocorreu com o apoio de Prestes a João Goulart, o maior continuador de Getúlio, e o apoio de Prestes a Brizola, também getulista, tal como o apoio ao getulista Darcy Ribeiro. A Igreja e o PCB militavam na UNE, nos sindicatos urbanos e rurais e no meio cultural, com presença progressista.

Prestes, numa entrevista à revista “Realidade” (colhida no livro de Fábio Altman, “A arte da entrevista”, São Paulo, Ed. Página Aberta Ltda, 20. Edição, 1995, pp. 294-295), feita pelo jornalista Paulo Patarra, em dezembro de 1968, disse as seguintes frases: “…o próprio papa reconhece que o capitalismo não é saída para os povos subdesenvolvidos, uma vez que aumenta cada vez mais a distância que os separa dos países ricos, não fico surpreso com as posições do nosso clero progressista”; “estamos prontos, portanto, a apoiar esse setor da Igreja Católica, mesmo porque não nos consideramos os donos únicos da verdade”. Diante da pergunta “como o senhor definiria os padres de esquerda?”, respondeu: “como patriotas, a quem respeito”.

Além disso, Prestes afirmou espontaneamente que “agora, estou lendo o livro de dom Hélder Câmara”. Na sala onde Prestes recebeu o jornalista havia uma imagem da “Santa Ceia”. Num dos quartos, estava a imagem de “santo Antônio”, com o “Menino Jesus ao colo”.