Sobre a relação entre democracia popular e catolicismo vale à pena a leitura dos textos do padre Júlio Maria (1850-1916), de Jacques Maritain (1882-1973), Alceu Amoroso Lima e outros autores. As idéias deste blog são apenas desenvolvimentos destas idéias expostas por estes mestres.
O padre Júlio Maria defendeu a democracia e reformas sociais (“a questão social” é “a questão por excelência, porque ela afeta os interesses fundamentais do ser humano e da sociedade”) e o fez com base na seguinte premissa central: “a razão” é “o atributo mais belo” do ser humano, o “que mais o aproxima da Divindade”. Esforçou-se por demonstrar “as origens cristãs” da democracia e “unir a Igreja e o povo”. Estes objetivos são ainda parte de nosso ideal históricos. Nos textos do padre Camilo Torres, do bispo Dom Hélder e nos documentos das Conferências Episcopais da América Latina há a mesma base fundamental.
A coesão da sociedade é fruto da união racional, da concórdia, do consenso, da ajuda mútua (inspirada pela caridade, pela solidariedade, pela justiça e outras virtudes). Esta coesão ou mútua ajuda consensual (em formas institucionais-estatais e voluntárias) é a melhor forma de assegurar e promover o bem comum. Para abonar este ponto, basta o texto de Pio XII, na “Anni sacri” (12.03.1950), que destaca a importância da “concórdia civil e do bem-estar das nações”. Neste documento, este papa frisa que devemos ser “ativos” e que “as forças humanas” são “corroboradas pela graça”. Também ensina que uma ordem justa (e “nova”) é um ordenamento “informado pela verdade, justiça e caridade [amor ao próximo como a si mesmo).
Conclusão – a finalidade da política, do poder político, do Estado, da própria sociedade, é “realizar o bem comum”. Como ensinou Leão XIII, na “Rerum” (n. 23), no capítulo sobre “a ação do Estado”, “a finalidade da política e o dever inescusável dos governantes” é assegurar e promover “a prosperidade tanto da sociedade como dos indivíduos”. O jeito (causa, meio) de assegurar isso é criar “leis e instituições” (“legum atque institutorum”, “fazendo com que da ordenação e administração mesma do Estado brotem” esta prosperidade. O sistema econômico apropriado para a democracia popular é um sistema econômico misto, com amplo Estado social, boas estatais, cooperativas, sindicatos, milhões de pequenas e médias empresas, primado do trabalho etc.