A tradição mundial da economia mista é atestada por Xenofonte

Glauco Tozzi, no excelente livro “Economistas griecos y romanos” (Cidade do México, Fondo de Cultura Económica, 1968, p. 40), mostra que Xenofonte, no livro “Discurso sobre as finanças de Atenas e de vários meios para aumentá-las” (uma das últimas obras de Xenofonte), defendia que as minas de prata de Laurion, que pertenciam a cidade de Atenas, não fossem dadas em concessão a pessoas privadas, com pagamento de renda a Cidade. Em vez disso, o correto seria o Estado de Atenas aumentar a produção de prata, pela via única de uma estatal. Isso já era feito, mas parte era dado em concessão a particulares. 

Tozzi cita outro autor no mesmo sentido, Padovani, no livro “Delle Finanze di Atene”. A organização pública da extração da prata seria feito por galés, ponto ruim, mas seriam como empregados públicos, só, que seriam aproveitados os escravos colhidos nas guerras. Este ponto não desmerece a proposta, pois a mesma poderia ser feito sem este artifício. 

Xenofonte mostra que a exploração exclusiva estatal das minas seria melhor, até para compensar a existência de filões exíguos, em algumas minas, e filhões abundantes, em outras minas. Ou seja, jazidas melhores, em cada mina. E a principal razão é que a receita seria vertida inteiramente a benefício da população de Atenas, e não para favorecer algumas pessoas. Padovani elogiava a solução, para que fosse adotada em todas as minas da Itália. 

Tozzi conclui que a “a proposta de Xenofonte” era “uma manifestação” das ideias da época, de um “limitado socialismo de Estado”, economia mista, “comum entre os gregos”, especialmente em Esparta. Xenofonte era admirador do socialismo de economia mista de Esparta, tal como eram admiradores Sócrates, Platão e outros autores. A Bíblia, no livro “Macabeus”, também diz claramente que os judeus tinham uma aliança antiga com Esparta, a quem consideravam como cidade irmã, o que mostra o apreço dos judeus aos espartanos. Mably também era apologista de Esparta. 

Esta foi a principal proposta de Xenofonte para aumentar as rendas estatais da cidade-Estado de Atenas. Xenofonte aconselha boas relações de Atenas com as outras cidades, para diminuir os gastos com a Força militar. Aconselhava Atenas a receber imigrantes, que trouxessem experiência e seus capitais, para a cidade. 

Xenofonte foi o autor da primeira obra sobre “Economia”. Também escreveu o livro “Ciropedia”, com o elogio de Ciro, o Grande, o grande rei da Pérsia, que é elogiado também na Bíblia. Ciro libertou os judeus do Cativeiro da Babilônia e permitiu a reconstrução do Templo. Ciro é elogiado pelos judeus, na Bíblia, e também pelos grandes filósofos gregos.

Xenofonte foi um grande apologista da agricultura. O próprio François Quesnay, no livro “Análise do quadro econômico” (1766), destaca uma de suas máximas principais usando um texto de Xenofonte, de elogio a agricultura. O texto de Xenofonte é posto na boca de Sócrates, ou seja, Xenofonte elogia a agricultura através de um dito de Sócrates. O velho Xenofonte também escreveu um livro elogiando Sócrates (“Os ditos memoráveis de Sócrates”). Xenofonte escreveu outro livro sobre a Constituição de Atenas, onde aconselha que Atenas siga o exemplo de Esparta, em vários pontos. Esta ideia de economia mista é a mesma ideia exposta por Platão, no livro “Leis”, e também adotada por Aristóteles, no livro “Política”. 

Xenofonte constatou a lei que diz que o excesso de um bem faz cair o preço. No entanto, Xenofonte dizia que isso não ocorria com a prata, pois esta sempre seria usada como reserva de valor, ou para o comércio externo. E o fluxo monetário, gerado pela moeda, cunhada em prata, iria trazer prosperidade. Estas ideias foram adotadas pelos populistas nos EUA, lá por 1895, por Bryan e outros. Xenofonte não gostava do ouro. A posse particular do ouro era proibida em Esparta. Em Esparta, a moeda era de ferro, para evitar a criação de riquezas particulares. Esparta cultivava a mediania. 

Conclusão: fica claro, no autor do primeiro livro de economia, que a boa economia deve ser uma economia mista, com amplos controles públicos, regras, planos, para beneficiar a todo o povo, e não apenas os ricos. Esta ideia está no centro das regras jurídicas de Moisés, da Bíblia, tal como está em Xenofonte, em Platão, em Aristóteles, nos estóicos etc.