Economia do trabalho, economia mista, com primado do trabalho, eis as linhas gerais da doutrina social da Igreja

A crítica social principal da Igreja ao marxismo (na forma estalinista) foi que este, “embora ideologicamente sustente um humanismo…, na prática se traduz numa concentração totalitária do poder do Estado” (cf. consta em “Medellin”, n. 1,10). Especialmente o socialismo moldado por Lenin e Stalin, com partido único, centralizado. A crítica da Igreja ao totalitarismo foi tão veemente que influenciou até os melhores textos de Azevedo Amaral, que na obra “O Estado autoritário e a realidade nacional” (1938, tenho esta primeira edição, em minhas mãos…), criticou o totalitarismo, no nazismo, no fascismo e no comunismo. A Igreja, como pode ser visto nos textos de João Paulo II, distinguiu entre coletivismo (estatização total da economia) e socialização, mostrando que a socialização é boa, inclusive por boas estatais e planejamento público da economia, mas estatizar tudo, sem controle da sociedade sobre o Estado, é um erro. 

A doutrina da Igreja condenou o “sistema liberal capitalista” e também formas de capitalismo estatal, ou seja, modelos de “socialismo real” do leste europeu, baseados em ditaduras concentratorias. Estas duas formas de capitalismo são más por reificarem (vide Lukács) as pessoas, os trabalhadores, excluindo-os da gestão (e dos recursos frutos de seus trabalhos) dos bens, nas unidades produtivas e no Estado.

Conclusão: o capitalismo é o modo de produção baseado em grandes unidades de produção, tendo, contrapostos, de um lado capitalistas que abarcam todo o controle (exercido por gerentes dos capitalistas) e resultado econômico; e do outro lado, proletários reificados, lesados do ponto de vista da justiça comutativa (usura, extração de mais-valia, dão bem mais do que recebem) e do ponto de vista da justiça legal ou social (pelo açambarcamento dos recursos destinados a todos).

O capitalismo privado e estatal foi expressamente condenado pela Igreja em diversos documentos (por Leão XIII, Pio XI, Pio XII, João XXIII, Paulo VI e João Paulo II). A Igreja vê com bons olhos um sistema misto, com boas estatais, planejamento, mas milhões de pequenas e médias propriedades privadas, moradias para todos, terra para todos, apoio do Estado para a pequena, micro e média empresa familiar etc. Este modelo misto está sendo formado na Europa e mesmo na China, no Vietnam, na Coréia, na América Latina, Cuba, no Irã, também em Israel (pelas melhores pessoas de lá, do MAPAI, do Partido Trabalhista), na Índia, na África etc. O MAPAI, em Israel, depois rebatizado em Partido Trabalhista, foi o responsável pelo que há de melhor em termos sociais, em Israel, pelas cooperativas agrícolas, sindicatos fortes, boas estatais, economia mista, Estado social etc. O trabalhismo é a melhor via. O trabalhismo atuou no Brasil, em Israel, na Inglaterra, na Noruega, Suécia, Irlanda, Austrália, Canadá, na África do Sul, na Índia e em muitos outros países.