As linhas gerais da Doutrina social da Igreja – Estado social, democracia participativa popular, economia mista

A Igreja não tem uma escola filosófica “fechada”, tem, isso sim, um conjunto de verdades reveladas, que coincidem, na parte ética, com os princípios racionais, obtidos da reflexão sobre a experiência. O cristianismo não apresenta uma receita de bolo estatal ou econômica toda detalhada e nem Marx fez isso. Só há um conjunto de princípios e idéias práticas, que nos dão um esboço, as linhas gerais. As linhas gerais apontam para uma Democracia popular participativa, economia mista, Estado social, cooperativismo geral e apoiado pelo Estado, reforma agrária campesina, combate à reificação dos trabalhadores etc. 

Assim, a escola filosófica da Igreja é o que Etienne Gilson chamava de “realismo” cristão, a aceitação e a descoberta constante de verdades, de idéias em harmonia com a realidade, com a natureza dos seres. Maritain usou o termo “humanismo” e o núcleo das idéias era o mesmo. Da mesma forma, a Igreja não tem um estilo arquitetônico, literário ou artístico próprio, mas tem linhas gerais.

Como a filosofia abarca a arte e todas as ciências, fica claro entender que isso vale também para as ciências naturais, a ciência política, a economia etc. Por isso, o catolicismo, que defende o livre arbítrio, também ensina que as pessoas (o que inclui os católicos) têm liberdade política, científica, cultural, literária, artística e várias outras liberdades, inclusive teológica.

Assim como a Igreja não tem uma doutrina filosófica específica, também não tem uma teoria específica e fechada de Estado ou de economia. A Igreja docente deve apresentar princípios e idéias, à luz da razão e da fé, pois as luzes da fé são principalmente luzes críticas em relação ao “status quo”, ao que existe de fato, que deve ser sempre melhorado, reformado, alterado para melhor. Estes critérios, princípios e idéias diretrizes foram chamados historicamente de “lei natural”, o mesmo nome do conjunto de idéias verdadeiras existentes na consciência das pessoas.

Logo, o cristianismo tem uma concepção democrática e socializante, que fornece as linhas gerais de como deve ser a sociedade. Estas linhas gerais, quando aprofundadas, fornecem um ideal histórico, que é, hoje, denominado de Democracia participativa, social, popular, humanista, em geral com economia mista, Estado social etc.