Há um livro muito bom, que deveria ser reeditado aos milhões no Brasil. Trata-se da principal obra de Pedro da Fonseca (1528-1599), as “Instituições dialéticas” (Coimbra, Ed. Universidade de Coimbra, 1964), que foi editada em 1564. Esta obra ilustra muito bem o método diálético (dialogal), utilizado por Santo Tomás. Vejamos um trecho (colhido na p. 351):
“O argumento [razões] é uma coisa encontrada para fazer fé [gerar certezas, verdades], isto é, um meio que se toma para provar alguma coisa. Questão é a enunciação aduzida para formular uma dúvida ou ambigüidade. Abrange ambas as partes da contradição, isto é, a afirmação e a negação, expressamente uma, e implicitamente a outra, como: deve ou não antepor-se a virtude à riqueza? Toda a questão é ou universal, como a que foi mencionada, ou particular como esta: é ou não feliz algum pobre? Estes dois gêneros chamam-se teses; ou singular, como: teria Sócrates bebido a cicuta sem a acusação de crime? Esta chama-se hipótese”.
Santo Tomás examinou as questões mais complicadas estruturando o raciocínio como se fosse um diálogo onde houvesse vários interlocutores apresentando idéias contrárias, numa estrutura dialogal, seguindo a linha do diálogo, que está na Bíblia, no coro das peças de teatro, nas peças de teatro, em Platão, Cícero etc. Para isso, utilizava essencialmente argumentos racionais, utilizando os quatro gêneros examinados por Aristóteles: silogismos ou deduções; entimemas (raciocínios baseados em verdades conhecidas); induções e exemplos (comparações, parábolas). Em síntese, utilizava o diálogo, o uso da razão para descobrir verdades concretas ou abstratas.