Em Adam Smith há uma teoria política jusnaturalista bem explícita. Basta ver o assunto de seu livro principal, “a riqueza das nações” e a forma como dividiu o livro V (onde é mais intervencionista), tratando das “despesas do soberano ou da comunidade”, as “fontes da receita geral ou pública da sociedade” e os tipos de despesas públicas. No Livro IV, explica a “liberdade natural” do seguinte modo: “todos os homens, enquanto não violarem as leis da justiça [do bem comum], ficarão perfeitamente livres”. Esta proposição não é liberal, e sim aristotélica e é perfeitamente ortodoxa.
Para Smith, o Estado teria três grandes funções (tarefas): a defesa, a justiça (o termo significa criar, manter e aplicar um conjunto de leis) e “a construção e manutenção de certas obras e instituições públicas”. Detalhe: mesmo Adam Smith criticaria o capitalismo de hoje, pois ele, tal como Jefferson, queria um país onde todos fossem artesãos, pequenos burgueses ou camponeses, e não os grandes proprietários (os ricos). Neste ponto, alguns de seus textos podem ser ainda úteis para a formação do bloco entre proletariado, pequena burguesia, campesinato e camadas médias, para superar e erradicar o capitalismo, especialmente o capitalismo monopolista (dos cartéis e trustes, especialmente multinacionais).
O texto onde Adam Smith admite que cabe ao Estado a “construção e manutenção de certas obras e instituições públicas” mostra que ele admitia a economia mista. Da mesma forma, admitia o protecionismo, pois aceitava as leis de seu tempo, que davam aos navios ingleses o direito de transporte sobre todo o comércio externo inglês, regra bem protecionista, tal como admitia taxas alfandegárias. Smith trabalhou por vários anos na Alfandega inglesa.
Adam Smith, em seu livro “Teoria dos sentimentos morais” (São Paulo, Ed. Martins Fontes, 2000), ensinou que a ética depende da “simpatia”. As melhores idéias de Smith tem origem em autores como Ralph Cudworth (1617-1688, o líder da Escola platônica cristã de Cambridge), John Locke, Francis Hutcheson (1694-1747), Adam Ferguson e Hume. Para Smith, a ética nasce dos sentimentos de simpatia, da forma como nossas condutas são vistas pelo outro, por um observador desinteressado. Há, implícito nesta concepção, um elogio da percepção da razão, presente em todas as pessoas. Smith, no final do livro, diz que a razão é a fonte da apreciação das condutas, da simpatia, da semelhança com nossas melhores idéias. Adam Smith pressupõe corretamente que a razão do observador desinteressado (não passional), sendo imparcial e isenta, é capaz de julgar se a conduta é boa ou má. Smith tem razão neste ponto, sendo esta, também, a premissa da ética de Aristóteles e ainda de Freud: a razão é a guia da vida. A razão e a experiência.