Um texto genial de Hobson, mostrando a influência asiática nas repúblicas italianas e como o Estado deve intervir na economia

John A. Hobson, no livro “A evolução do capitalismo moderno” (São Paulo, Ed. Nova Cultural, 1996, p. 34), mostra a influência das antigas civilizações semitas asiáticas, de onde nasceu o cristianismo, mesmo séculos depois. Como estes berços culturais da humanidade influenciaram o desenvolvimento econômico na Europa, com o surgimento das repúblicas italianas, que Sismondi elogiou e que foram profundamente influenciadas pela Igreja, para desenvolver a economia na Europa. Vejamos o texto de Hobson:

“As repúblicas italianas foram as primeiras a tomar esse trabalho em suas mãos. Quando as Cruzadas chegaram a seu fim, elas estavam com o controle virtual de numerosas cidades da Síria, Palestina, mar Egeu e mar Negro. A partir do início do século XII, Gênova, Piza e Veneza cravaram suas garras econômicas nas cidades de Asov, Cesária, Acre, Sídon, Tiro etc. Com o desmoronamento do Império do Oriente, Veneza se transformou num vasto poder colonial, pois nada menos que 3/8 desse império caíram sob sua influência exclusiva; enquanto isso, Gênova, sua rival, também adquiria grandes possessões nas ilhas jônicas e no continente.

A Ásia Menor e as ilhas do mar Egeu possuíam ricos recursos naturais e grandes populações civilizadas, herdeiras de ofícios artesanais qualificados, até então desconhecidos do mundo ocidental. As cidades italianas não pretenderam colonizar esse vasto império — no sentido moderno da palavra colonizar — mas estabeleceram centros comerciais nas principais cidades e cobraram ricos tributos pelas manufaturas. Elas fundaram uma florescente indústria de seda em Antioquia, Trípoli e Tiro; de algodão, na Armênia; de vidro e cerâmica, na Síria; e empreenderam importantes trabalhos de mineração na Fócia e em outras partes.

Seu modo de exploração parece ter sido uma adaptação do sistema feudal, mediante o qual, como dominadores, reservaram para si grande parte, geralmente 1/3 do produto total do solo, das minas e da indústria. Essa forma de enfeudação, introduzida mais tarde pelos espanhóis na América, sob a denominação de Encomiendas, já existia há muito tempo nessas colônias italianas do Levante. Mais tarde, a forma feudal desapareceu, dando lugar ao poder de companhias privilegiadas que exerciam um monopólio em nome do rei ou do Estado”. 

Minha conclusão: assim, o Estado, a presença estatal, inclusive nas Repúblicas italianas do início do século XII, foi essencial para gerar o desenvolvimento econômico.