A Cabala, que condensa o ideário místico dos hebreus, é uma prova clara da influência da Paidéia. Várias idéias da Cabala são idéias estóicas e semitas, como a idéia da “corporalidade” de Deus, destacando que os estóicos ensinavam que há corpos imateriais. Da mesma forma, o panenteísmo da Cabala é a interpretação correta do “panteísmo” estóico: o mundo existe em Deus, que é onipresente, estando Deus imanente e transcendente ao mundo (“Deus é o lugar do mundo, mas o mundo não é Seu lugar”). Lembro que a Igreja também ensina a onipresença divina, Deus está presente em tudo, sem ser o tudo, sendo mais que o Tudo, mas estando no tudo, no todo.
Deus está por trás (na essência, pela onipresença, sendo também transcendente) do mundo, como Razão, ordenando-o, conservando, melhorando e sempre aperfeiçoando o mundo. No mesmo sentido, o livro de Max Scheler, “O lugar do homem na natureza”, é panenteísta, e não panteísta. A “quebra de vasos” (“Shevirat há-kelim”), expressão cabalista para uma catástrofe primordial, é usada para designar o pecado original de parte dos Anjos, que trouxe desordem ao universo, devendo este ser restaurado, redimido (“Tikun”). Nestas ideias, há ideias cristãs, meio distorcidas, mas há um fundo correto, que é preciso distinguir, separando o trigo do joio.