Na página 48, do livro “Filosofia do judaísmo”, Julius Guttmann destaca que o trabalho de Fílon de Alexandria, um hebreu adepto do platonismo médio, foi uma continuação da síntese entre a Paidéia e as idéias hebraicas, ocorrida já na “Septuaginta”, em 285 a.C. e mesmo antes, quando a Bíblia era traduzida para o aramaico (língua falada nos impérios assírio, medo e persa), no “Targum”. Esta síntese já estava presente inclusive em Moisés, que tinha toda a ciência egípcia, suméria, semita etc.
Guttmann lembra que Fílon é a continuidade da “esteira da síntese das doutrinas platônicas e estóicas, efetuada por Posidônio”, pelo estoicismo médio, a matriz do platonismo médio. Esta síntese fica evidente nos livros “Sabedoria” e “Eclesiástico”, livros revelados, onde Deus se vale da influência cultural da época, do trigo entre a cultura da época. Esta síntese também está na medula de livros como “Macabeus”, especialmente o livro apócrifo “Macabeus IV”. Neste livro, “o princípio comum a todas as escolas da ética grega, de que a razão deve governar as paixões”, aparece como “expressão filosófica da exigência bíblica de submissão à Lei divina”, que é o Logos, que é a Razão divina (cf. Guttmann). Deus criou a razão, a consciência, para o autogoverno pessoal, familiar e social, premissa central do pensamento democrático. Claro que a razão atua em boa síntese com as emoções, paixões, instintos e com o corpo humano, na linha do que foi ensinado pelos grandes aristotélicos e estóicos.