Capitalismo de Estado, parte boa e má

João Paulo II, na “Centesimus” (1991), é bem claro, mostrando que a Igreja quer uma economia mista. Ele, no item 35, rejeita o “sistema econômico” capitalista, que é a “prevalência absoluta do capital, da posse dos meios de produção e da terra”; tal como rejeita o “sistema socialista” (“que, de fato, não passa de um capitalismo de Estado”). Os dois sistemas, capitalismo e socialismo, neste conceito estrito, são unilaterais. O correto é uma sociedade baseada no “trabalho livre”, combinando empresas e controle “pelas forças sociais e estatais”, harmonizando liberdade e justiça, para “garantir a satisfação das exigências fundamentais de toda a sociedade”. Então, ao lutar contra o capitalismo liberal, os católicos não querem abolir o mercado. E ao lutar contra o capitalismo estatal exclusivo (“socialismo real”), não querem abolir o Estado, as estatais, o planejamento público participativo etc. Querem uma síntese, uma boa economia mista, que era a síntese defendida por Platão, nas “Leis”, por Aristóteles (na “Política”), pelos estóicos etc. 

No fundo, esta síntese foi buscada até por Lenin, que queria, no início e durante o NEP, um modelo de capitalismo estatal (estatais para grandes meios de produção) e campesinato, e pequenas e médias empresas familiares. Esta síntese foi defendida principalmente por Bukharin. Esteve presente no modelo de Democracias populares depois da Segunda Guerra. Estava presente no modelo de Pio XI, na “Quadragesimo anno”, onde Pio XI defende a estatização dos grandes meios de produção (os bens que atribuem excesso de poder devem ser do Estado ou de cooperativas sob controle do Estado). E esteve presente nas ideias dos socialistas democráticos, dos trabalhistas, do New Deal, no modelo de socialismo judaico nos primeiros anos de Israel (sob os governos trabalhistas), no trabalhismo inglês, australiano, dos países do Norte Europeu, da Índia, nos nacionalismos do terceiro mundo (Egito, Argentina, Irã, Brasil, México, Africa do Sul com Mandela etc). Todas estas sínteses são baseadas na economia mista. Esta síntese está presente nos melhores textos de Mao, no modelo socialista chinês, tal como está no Vietnam, em Cuba, na Venezuela etc.