A ética praticamente estoica do Pirkei Aboth, do Talmud

Toda a estrutura ética do “Talmud”, em sua melhor parte, é praticamente um estoicismo hebraico, como fica evidente no “Pirkei Aboth”. O tratado “Pirkei Aboth” (“Ética dos Pais”) é o principal texto ético do Talmud. O “Pirkei” traz um texto do Rabi Eleazar, que diz: “seja diligente no estudo da Torah, para saber o que deve responder ao epicurista”, refutando-o (cf. Irving M. Bunim, no livro “A ética do Sinai”, tradução de Dagoberto Mensch, p.121). No núcleo ético do Talmud há uma luta contra o epicurismo, uma luta estóica-semita, que o cristianismo dá continuidade.

O “Pirkei” foi incorporado na liturgia hebraica (a liturgia é a ética viva da comunidade), pois é lido, nas sinagogas asquenazis todos os sábados à noite, durante o verão. Nas comunidades sefardis, o “Pirkei” é recitado em casa, no sábado, entre o Pessah (Páscoa) e o Shavuot (Pentecostes, quando Deus deu aos hebreus, no Monte Horeb, no deserto do Sinai, os Dez Mandamentos).

Flávio Josefo, contemporâneo de Cristo, chamava os fariseus de “estóicos hebreus”. Também chamava os saduceus de “discípulos de Epicuro”. No livro “Guerra dos judeus contra os romanos” (II, 12, 153), Flávio Josefo disse que “os saduceus, ao contrário [dos fariseus], negam absolutamente o destino” [a Providência, ação divinizadora de Deus] e ensinam que Deus “não se incomoda com o que os homens fazem” e que “as almas não são nem castigadas nem recompensadas num outro mundo”. Em outras palavras, os saduceus negavam a Providência, a ética e a vida após a morte, pontos que hebreus e estóicos ensinavam, em boa harmonia, sendo estes pontos herdados pelo cristianismo, pois o cristianismo é a corrente semita-hebraica submersa, que continua. Uma corrente que estava já presente no estoicismo, que teve criação semita-fenícia.

Em sua “Autobiografia”, Flávio Josefo diz ser fariseu, desde os dezenove anos. Josefo destaca que os fariseus eram os estóicos hebreus. Cristo disse que os “fariseus” ocupavam “a cadeira de Moisés” e que os cristãos deveriam ouvir os fariseus, sem imitar a prática destes, em descompasso com suas idéias. Os fariseus representavam a corrente mais próxima ao cristianismo e de onde brotam os judeus cristãos, inclusive São Paulo, fariseu, aluno de Gamaliel.

O livro do padre Eleutério, “Cristianismo e estoicismo”, explica algumas razões da proximidade e da semelhança entre as idéias estóicas e as idéias do cristianismo. Além de serem idéias racionais, eram idéias de origem oriental, fenícia, persa (cristalizadas principalmente no masdeísmo), mesopotâmicas, egípcias e mesmo hebraicas.

A influência semita no pensamento grego é destacada pelos próprios gregos. Por exemplo, parte das idéias “gregas” vem de Tales, um fenício. Tales foi o mais antigo filósofo do mundo grego e era fenício. Outro exemplo é Ferecides de Siro, que escreveu lá por 600 a.C.. Ferecides ensinou sobre a imortalidade da alma e teria aprendido suas idéias da leitura dos livros secretos dos fenícios, vizinhos e amigos dos hebreus. Há influência semita-fenícia em todo o pensamento grego, a começar pelo alfabeto semita, adotado pelos gregos. E o mesmo ocorre na revolução que trouxe a Democracia a Atenas, com participação de fenícios. O criador do estoicismo foi Zenão, um fenício. E todos os grandes escritores estóicos tinham origem fenícia ou espanhola (a Espanha teve ampla influência semita, fenícia, em ligação com o Cáucaso e o mundo fenício, semita e hebraico). 

A cultura grega foi influenciada pela cultura fenícia. Afinal, o alfabeto grego vem também dos fenícios. Os gregos passaram a usar o alfabeto lá por 750 a.C.. Mesmo a escrita Linear, encontrada em Creta, também tem origem mesopotâmica, na escrita cuneiforme semita, que foi a base da escrita fenícia, aramaica e hebraica. A divisão do tempo em semanas, tal como do dia em doze horas, também vem da Mesopotâmia semita. O mesmo para a divisão do círculo em 360 graus, na divisão do mundo em quadrantes etc. 

Os próprios gregos ensinam que Atenas foi criada por um egípcio, chamado Cécrope. A cidade grega de Tebas, palco das grandes peças de teatro de Ésquilo e outros, foi fundada por um fenício, chamado Cadmos. Cadmos teria trazido a escrita fenícia aos gregos, tal como vastos pontos da religião grega. Outra parte da cultura grega vem de Creta, da civilização minóica (de “Minos”), também ligada ao Egito e aos fenícios. O próprio nome “Europa” vem da Fenícia, pois seria uma filha de um rei fenício.

A estrutura das cidades-estados gregas vem da estrutura das cidades-estados fenícias e da Suméria. A democracia existiu antes na Suméria, depois na Fenícia, em Cartago e, só depois, na Grécia e em Roma.

Da mesma forma, Hércules tem origem em Melkart, um deus fenício. Por isso, Hércules, para os gregos, nasce em Tebas, cidade grega, de origem fenícia. A ilha de Malta, perto de Creta, tinha sido uma colônia fenícia e houve várias colônias fenícias no território grego, como a própria cidade de Tebas e a região da Beócia. O nome de “Malta” vem de uma palavra fenícia, que significa “refúgio”. Malta é uma ilha de 246 quilômetros quadrados, no meio do Mediterrâneo, a uns cem quilômetros da Sicília, área também banhada pela cultura fenícia-semita.