Cristo escolheu o termo “Igreja” (“Assembléia”), para unir a Igreja às tradições democráticas da humanidade

No Império persa e mesmo, em parte, no Egito, coexistiam governos centralizados com autogovernos de vilas e cidades e até regiões. O mesmo ocorreu no Império romano, que adotou, em sua estrutura, várias idéias persas. Os impérios romano e persa eram baseado numa infra-estrutura de cidades-estados, numa infra-estrutura municipal, de cidades com alguma autonomia, sendo esta uma estrutura natural ao ser humano, a meu ver. A estrutura municipal existia na Suméria, no Egito (os demos), na Fenícia, nos hititas, e depois, destes povos, foi para os gregos, que apenas seguiram a tradição mais antiga. 

Entre os hebreus, o que dizia respeito a todos, inclusive julgamentos, era decidido em assembléia, numa “kahal” (cf. Sl 26,5; Num 22,4; Jz 20,2; Jz 21,5-8;, ISam 17,47; 1Rs 12,3; Ex 12,6 e outros textos). Em cada colônia judaica, na diáspora, a “Kahal” (“Assembléia”, “Igreja”, em grego) era e é o centro decisório, funcionando junto com a sinagoga, como algo sagrado e querido por Deus, para o autogoverno do povo.

A estrutura das comunidades primitivas de cristãos, descritas no livro “Atos dos Apóstolos” e nas Cartas de São Paulo (e de São Pedro, São Tiago, São João e outras), têm a mesma estrutura democrática, que é a estrutura das CEBs, hoje. Pablo Richard deixou clara a estrutura democrática da Igreja primitiva, toda empapada de religiosidade republicana.

Na Grécia, em Atenas e nas outras cidades gregas, o termo “Assembléia” (“Ekklesia”, “Igreja”) era usado para designar a principal instituição da democracia, a instituição e o lugar onde se realizava a democracia direta e indireta, em boa mistura. O povo se reunia em Assembléia, numa praça ou num prédio amplo (muitas vezes, esta praça ficava junto aos portões da cidade, como explica a Bíblia), onde debatia e decidia a vida social. Esta forma de agir é tão natural que assim faziam os nativos nas aldeias do continente americano, da África, na Oceania e em toda parte.

A democracia, nas tribos bárbaras da Europa, é atestada por Tácito, pró-estóico, que descreveu estas aldeias no livro sobre a Germânia antiga. No livro de Júlio César há também boas descrições da democracia na Gália.

O termo “Igreja” tem um grande significado político, essencial na teologia política. É um símbolo, na mesma linha da morte de Cristo na cruz, a morte dos rebeldes políticos, dos escravos, o mesmo tipo de morte de Espártaco. Afinal de contas, Cristo escolheu dar à sociedade que fundou o nome de “Igreja”, sendo o mesmo nome usado pelos gregos para designar o Parlamento das cidades gregas, “Ecclesia”. Nestes textos, fica evidente que o povo é chamado a ser sujeito ativo, com subjetividade baseada no diálogo (que interliga as subjetividades), tendo o Estado como mero instrumento do povo.