O livro de Jean-Pierre Vernant, estudioso da Grécia antiga, com o título “As origens do pensamento grego” (Rio de Janeiro, Ed. Difel, 2010, 19ª. Edição) mostra a ligação cultural da Grécia antiga com a Ásia, especialmente com as áreas semitas do Oriente. A tradução da escrita linear B micênica mostra que Cnossos, Pilos e Micenas tinham amplas ligações com Ugarit, Mari e Hattusa, a capital do Império Hitita, regiões também ligadíssimas com os semitas, com os hebreus. A escrita mais antiga da Grécia tem origem fenícia e asiática, demonstrando o acesso às idéias do mundo semita-hebraico. Os fenícios e os hititas foram os canais principais da influência semita, da Revelação, sobre a cultura grega. Os fenícios influenciaram toda a bacia mediterrânea, antes dos gregos. E a cultura grega nasce principalmente na costa da Ásia Menor, da atual Turquia, onde a matriz cultural era hitita (matriz da cultura lídia).
Nos anos 2.000 a 1.700 a.C., existiam relações culturais intensas entre Creta com o complexo Mesopotâmia e Fenícia, inclusive com os Filisteus, mais tarde. Creta tinha ligações com Rodes, Cilícia e Chipre, áreas ligadas aos semitas, tal como com a Lídia. O Egito também mantinha ligações com Creta, pois a escrita mais antiga, antes da Linear A, em Creta, era uma escrita ligada ao Egito e aos sumérios.
O Egito, sob o controle dos hicsos (boa parte dos hicsos era hitita), controlava boa parte da Palestina e da Fenícia neste período e, assim, a influência egípcia e fenícia era preponderante na antiga Creta, o berço da civilização grega. Mais tarde, dentro do Egito, o povo hebreu desenvolveu-se, de 70 pessoas para cerca de seiscentos mil, possivelmente, entre cerca de 1700 a.C. (vinda de José, Jacó e outros para o Egito) até a Páscoa, de Moisés, lá por cerca de 1.200 a.C.
A arqueologia demonstrou que as construções cretenses seguiam o mesmo estilo que as construções de Biblos, Mari, Mesopotâmia e outras. Creta também era ligada ao Egito, como apontou Evans. O Egito também era ligado aos semitas e hebreus, como mostra a viagem de Abraão e, mais tarde, de Jacó, José e o êxodo, liderado por Moisés. A meu ver, as antigas pirâmides têm origem na arquitetura da Suméria, região ligada aos semitas, aos acádios. Muito mais tarde, aparecem pirâmides até no México, bem parecidas com as pirâmides egípcias e da Suméria.
A ligação de Jerusalém com os hititas era tamanha que o Profeta Ezequiel, em seu livro (Ez 16,3-), escreveu sobre Jerusalém: “Assim fala o Senhor Deus a Jerusalém: pelas tuas origens e pelo teu nascimento, és da terra do cananeu. O teu pai era amorreu e a tua mãe era hitita”. Jerusalém tinha população cananéia e hitita.
A Bíblia ensina que os hititas eram filhos de “Het” (“Chet”, em hebraico), cf. Gn 10,15 e 15,20. Por isso, os hititas eram chamados, na Bíblia, várias vezes, de “heteus”.
Os hititas viviam na atual Turquia, nas nascentes do rio Tigre e Eufrates, perto do Mar Negro, e também na área de Jerusalém, junto com os emoritas e jebusitas. No tempo dos Patriarcas, os amorreus instalaram-se junto de Hebron e de Siquém (cf. Gn 14,7.13; 15,16; 48,22; 1 Rs 21,26). Os hititas tiveram o auge de seu império entre 1.800 e 1.200 a.C., chegando às margens do Hebron (cf. Gn 23,3-20). Basta lembrar do hitita Urias, que habitava e gerava ciúmes em Davi (cf. 2 Sm 11,3). A Bíblia, muitas vezes, usa o termo “cananeu” como sinônimo de “hitita” (cf. Ex 23,28).
Num parêntese, vale a pena destacar, de novo, que o Egito esteve sob controle dos hicsos (asiáticos, sendo uma boa parte composta de semitas), de cerca de 1750 a 1580 a.C, por uns duzentos anos, período em que Jacó entra no Egito. Os hicsos eram uma mistura de povos da Ásia, o que os faz parentes dos hititas. Parte expressiva dos hicsos era formada por semitas. Uma parte significativa da cultura egípcia, mais tarde elogiada por Platão, tem origem semita.
Logo, parte relevante da cultura grega e da cultura egípcia, era de origem semita, ponto importante, para evitar que a gente pense em estanques culturais. Eu não nego coisas originais da boa cultura grega e egípcia, mas vale a pena destacar também as interligações, a difusão cultural, as ligações culturais.
Uma parte dos hicsos tinha origem arameu-semita, do norte da Mesopotâmia à Ásia Menor, com linguagem próxima dos hebreus. Por esta razão, há vários nomes semitas na cultura hitita.
O Império Hitita foi fundado em 1.800 a.C., com base num conjunto de povos, alguns de origem indo-européia e outros povos de origem semita. Os hititas receberam ainda influência dos hurritas, mitânios e outros, da área semita, entre os rios Tigre e Eufrates. Este caldeirão de povos já estava na área ao lado de Hattus, capital do Estado hitita, há mais de duzentos anos antes.
Os hititas habitavam parte da Ásia Menor, da Anatólia. São chamados, na Bíblia, de “heteus” (“terra dos heteus”, cf. Js 1,4). Abraão os encontrou (cf. Gn 15,20;23,3), tal como Josué (cf. Dt 7,1; Jz 3,5). Davi e Salomão tinham heteus como aliados. A Bíblia menciona os heteus 47 vezes. Abraão comprou um campo com uma caverna, para enterrar Sara, do heteu Efron (cf. Gn 23-10-20). A “Terra santa” era a terra dos heteus, jebuseus, amorreus, cananeus e heveus (cf. Ex 13,5).
Foi durante o controle dos hicsos (povo ligado aos hititas, com amplos elementos de cultura semita), que os hebreus prosperaram no Egito, com Jacob e José, chegando ao poder, implantando as leis agrárias que seriam elogiadas, mais tarde, por Platão, no livro “A República”, sendo a base do socialismo platônico e de boa parte do movimento em prol da reforma agrária.