Na “Segunda Carta” (2 Pd 1,3-4), São Pedro relaciona a virtude (“aretè”) com a “glória” e com “poder” (“dynamis”). Virtudes são perfeições, são atualizações do potencial humano, é a plenitude, a realização da natureza humana. Pela prática das virtudes, a pessoa torna-se participante da natureza divina (“theias physeos”), como pode ser visto em Mt 5,48. As listas de virtudes têm correlação com as listas clássicas (Fp 4,8 com “Disputas Tusculanas” 5, 23 e 67, obra de Cícero). Esta correlação foi praticamente demonstrada por Santo Ambrósio (no livro “De officiis Ministrorum”, 1, 24-49; com base no livro “De officiis”, “Dos deveres”, de Cícero), por Santo Agostinho (cf. “De libero arbitrio” 1,27), por Santo Tomás de Aquino (na “Suma Teológica”, I-II, questões 55-67; e II-II, questão 101 e outras). A melhor síntese possivelmente seja o livro do padre J. Pieper, “As virtudes fundamentais”, obra que compulsei com cuidado, para a redação deste capítulo.
Virtudes são a prática do bem, como ensinaram Santo Tomás de Aquino (na “Suma Teológica”) e São Paulo (cf. Rm 12,9). Amar é querer o bem e daí há também uma relação intrínseca entre o amor e as virtudes, sendo o amor (a caridade, a misericórdia) a alma de todas as virtudes.
A Igreja, ao nascer, reconhece claramente virtudes e qualidades nos pagãos. O termo “aretè” vem da raiz “ari”, de “agradável”, “louvável”, tal como está presente no termo “aristo” (de “melhor”, os melhores). As melhores pessoas são as que praticam as virtudes. Platão, nos livros “Protágoras” (329) e “Apologia” (n. 25), mostra que Sócrates ensinava que a virtude pode ser ensinada, é fruto da educação e da aceitação desta pelo educando, no fundo, é fruto do auto-educação do educando com a ajuda do educador, como parteiro. Aristóteles destaca que a virtude é “hexis”, um conjunto de hábitos, nascidos da prática de atos louváveis (cf. “Ética a Nicômaco”, 2,4-5; 1106; e outros trechos).