Bento XVI, em 2004, quando ainda era o Cardeal Joseph Ratzinger, escreveu o livro “Fé, verdade, tolerância” (São Paulo, Ed. Instituto Raimundo Lúlio, 2007, p. 87). Nesta obra, lembrou que a Igreja continuou o diálogo entre Revelação e filosofia, que já ocorria entre os hebreus, estando presente inclusive nos textos bíblicos.
Vejamos o texto do atual Papa, de Bento XVI:
“O encontro [diálogo] entre o pensamento grego e a fé bíblica não se deu pela primeira vez na Igreja primitiva, mas se produziu já dentro do próprio caminho bíblico. Moisés e Platão, a crença nos deuses e a crítica ilustrada dos deuses, o ethos teológico e prescrições éticas procedentes da “natureza” já se encontram dentro da própria Bíblia. A irrupção definitiva da fé clara num só Deus durante o desterro, o esforço por uma nova fundamentação do ethos após o fracasso da relação entre o agir e o acontecer (Jó, diversos salmos etc), bem como finalmente a crítica aos sacrifícios de animais no Templo e a busca de uma compreensão do culto e do sacrifício mais de acordo com a vontade divina, foram processos nos quais o contato entre ambos os mundos se produziu por si mesmo. A tradução grega do Velho Testamento, a “Septuaginta”, que foi a Bíblia do Novo Testamento, não deve ser considerada – como sabemos hoje – uma versão helenizante do “Massorá” (Massorá, o Velho Testamento hebraico), mas sim como constituinte de uma entidade de tradição independente; ambos os textos são, para nós, testemunhos, com valor próprio, do desenvolvimento da fé bíblica. Em conseqüência, a Igreja antiga desenvolveu longamente um encontro intercultural, que se acha ancorado no núcleo mesmo da fé bíblica”.