Celso Furtado – “Houve um período, na década de 50, em que o otimismo era justificado. Havia a possibilidade de se empreenderem reformas, tínhamos indústrias de base, siderurgia, a Petrobrás etc. Todo o esforço feito por Getúlio Vargas em prol da nossa indústria de base permitia balizar o caminho a seguir. Quando Juscelino chega à Presidência, ele pega esse caminho, e nele persiste. Nessa época, o Brasil se empenhou para implantar a indústria de bens de consumo duráveis, por exemplo, a de automóveis. Toda essa seqüência, tão importante para o nosso crescimento, obedeceu a uma certa lógica. Mas foi interrompida. Não se pode explicar o que aconteceu sem ter em conta o quadro político mundial da época, em que existia uma grande instabilidade decorrente dos ajustamentos da Guerra Fria. Depois dos anos da ditadura militar, houve expectativa de uma retomada do esforço de construção que já tinha sido feito. Porém, as idéias do neoliberalismo, que prevaleceram amplamente entre nós durante os anos 90, puseram em segundo plano a visão de um Brasil com mais autonomia”.