Leão XIII, no item 18 da “Aeterni Patris”, explica que a Igreja combateu os erros do epicurismo, do aristotelismo e do platonismo e, nesta crítica, a filosofia que mais se aproximava das idéias hebraicas e racionais era o estoicismo.
Frise-se que mesmo no epicurismo há uma parte boa, de apreciação correta do prazer, especialmente dos prazeres intelectuais e simples. Esta parte boa do epicurismo está correta, tem fundo hebraico e cristão.
Segundo Leão XIII, o estoicismo trazia idéias corretas sobre a Providência (“o governo do mundo”), “o conhecimento divino do futuro”, “a causa e o princípio dos males”, “o último fim [a finalidade principal] do homem”, tal como sobre “as virtudes e os vícios”. Vejamos o texto de Leão XIII, na “Aeterni Patris”, item n. 18:
“Harmonia entre a razão e a fé, considerada na história da filosofia.
18.Na verdade, ainda os mais sábios dos antigos filósofos, que careceram do benefício da fé, erraram muitíssimo e em muitas coisas. Porque, não ignorais que, entre algumas verdades, ensinaram muitas vezes coisas falsas e errôneas, muitas coisas incertas e duvidosas acerca da verdadeira noção da divindade, da primitiva origem das coisas, do governo do mundo, do conhecimento divino do futuro, da causa e do princípio dos males, do último fim do homem, da eterna bem-aventurança, das virtudes e dos vícios: de outras doutrinas, cujo conhecimento verdadeiro exato é mais que tudo necessário ao gênero humano. Porém os primeiros Padres e Doutores da Igreja, que muito bem sabiam, pelo conselho da vontade divina, que o reparador da própria ciência humana era Cristo, que é “virtude e sabedoria de Deus” (I Cor. 1, 24), e “no qual estão encerrados todos os tesouros da sabedora e da ciência” (Col. 2, 3) empreenderam investigar os livros dos sábios antigos e confrontar as suas opiniões com as doutrinas reveladas; e por uma prudente escolha adotaram o que nelas parecia conforme com a verdade, emendando ou desprezando tudo o mais”.
Como explicou Leão XIII, no trecho acima da “Aeterni”, a Igreja passou a “investigar os livros dos sábios antigos” e, “por uma prudente escolha”, após “confrontar as suas opiniões com as doutrinas reveladas”, “adotaram o que nelas parecia conforme com a verdade, emendando ou desprezando tudo o mais”. No fundo, é o que faz sempre a Igreja, sempre colhendo o que há de trigo no meio do joio, num saudável ecletismo ecumênico, pois toda luz da razão humana é coerente com as luzes da fé.
Neste trabalho, a filosofia que tinha mais pontos comuns era o estoicismo eclético, havendo também inúmeros pontos comuns com o aristotelismo e o platonismo médio. No fundo, os primeiros Santos Padres aderiram a uma mistura de estoicismo eclético em mistura com o aristotelismo e o platonismo médio.
A Igreja resistiu ao que havia de mal no Império Romano, especialmente os males da tirania (“a crueldade dos tiranos”) e a adoração aos governantes, ao Imperador. Isso foi feito pelos mártires. E, ao mesmo tempo, com os mesmos fundamentos racionais, a Igreja pelos Padres “Apologistas”, criou o que se convencionou chamar de “filosofia cristã”, que é uma síntese do melhor da filosofia da Paidéia. Da mesma forma, a filosofia cristão é aberta ao melhor de todas as culturas, das culturas afro, asiáticas, hindus, chinesas, japonesas, da Oceania, de nossos índios do Continente Americano etc.