A consensualidade é quase sempre indício de racionalidade, de verdade

A consensualidade é gerada pela evidência e pelo exame do benefício prático que a idéia pode trazer. Como explicavam os escolásticos, a evidência tem “um certo fulgor [brilho, clareza, luminosidade] da verdade, que arrebata o assentimento da inteligência” (“fulgor quidam veritatis mentis assensum rapiens”). Descartes, um grande católico, apenas repetiu a lição escolástica, ao escrever que “a primeira regra é não receber nunca alguma coisa como verdadeira, se a não conhecer evidentemente como tal” (cf. “Discurso do Método”). Esta idéia brilhante rege a feitura dos melhores livros de investigação criminal, como os de Conan Doyle, Rex Stout, Erle Stanley Gardner e outros. É também o núcleo do método hipotético-dedutivo, que rege as ciências experimentais. Este método foi bem explicado por Louis Pasteur, um dos grandes católicos que a Igreja teve. 

Como explicou Leão XIII, na “Aeterni Patris” (04.08.1879), “não foi em vão que Deus infundiu a luz da razão na mente humana”. Na própria Revelação há uma grande parte que é racional, sendo a outra parte supraracional, mas nunca irracional. Leão XIII explicou bem que uma boa parte das “verdades” “divinamente reveladas ou estreitamente vinculadas ao ensinamento da fé foram conhecidas à luz só da razão natural por filósofos pagãos e por eles demonstrados e defendidas com argumentos apropriados”.

A razão, especialmente a filosofia, “é capaz de aplanar e de consolidar” “o caminho que conduz à verdadeira fé”, de “preparar os ânimos” para “receber a Revelação”. A razão e a filosofia são “pedagogos”, tanto da fé quanto das idéias verdadeiras e benéficas a todos, para a constituição e estruturação de uma sociedade e de um Estado que sirva como Casa comum.

Leão XIII transcreveu trecho de São Clemente de Alexandria, do livro “Strômatos” (“Tapeçarias”, I, 20), onde São Clemente de Alexandria ensina que “a filosofia”, especialmente a “grega”, atua como “cerca e muro da vinha” (“dicta este vineae apta sepes et valus”).

A razão (com reforço da graça) gera a tradição, a lei oral, tal como a razão é o substrato do fé. Afinal, a fé é a razão iluminada pelas idéias da Revelação. Assim, o diálogo do povo é a verdadeira fonte do poder, pois o poder só será sábio, quando o povo tiver o poder, estiver ocupando os espaços e frações do poder, do Estado, fazendo com que a sociedade se autogoverne, sem oligarquias, sem tiranias, como defendiam Platão, Aristóteles, os estóicos e também os grandes sábios hebreus e a Igreja, já que somos mesmo espiritualmente semitas (expressão boa do grande Pio XI).