No discurso “Grand coeur” (25.09.1949), Pio XII fez uma apologia do humanismo da Paidéia, ensinando, em bom paralelismo com Maritain, que o humanismo cristão (e hebraico) coincide com “tudo o que o humanismo” da Paidéia “traz consigo de verdadeiro, de bom, de grande e eterno”.
Nas palavras de Jacques Maritain, no livro “Humanismo integral” (5ª. edição, São Paulo, Ed. Companhia Editora Nacional, 1965, p. 6): “as fontes do humanismo ocidental [e em partes do oriental, especialmente nas áreas muçulmanas, do Leste Europeu, da Rússia, das Igrejas ortodoxas, da Igreja Copta, da Igreja da Etiópia, da Igreja da Armênia e da Geórgia, e com influências difusas em vastas regiões asiáticas] são fontes clássicas [Paidéia] e fontes cristãs [especialmente hebraicas], e não é somente na massa da antiguidade medieval, é também” em “partes” da “herança da antiguidade pagã, aquela que evocam os nomes de Homero, Hesíodo (cf. “Os trabalhos e os dias”), Sófocles, Sócrates, Virgílio”, que “aparecem os caracteres a que acabo de me referir”. Hesíodo já ensinara que o poder público tem fundamento ético, na justiça (“Diké”), no ideal do bem comum.
O destaque a Virgílio reflete velha opinião da Igreja, como fica claro nos textos de Dante. Maritain também deveria ter destacado Cícero, autor do coração de Leão XIII. E o grande Sêneca, e o magistral Galeno, todos homens profundamente religiosos.
No mesmo sentido, Pio X, na encíclica “Il fermo”, destacou que a Igreja, desde o início, atuou “conservando e apurando os elementos bons das antigas civilizações pagãs, arrancando à barbárie e adestrando à vida civil as novas gentes”, tendo isso ocorrido “a passos lentos, mas com traços seguros e sempre progressivos”.
No discurso “Grand couer”, Pio XII chamou Santo Tomás de “o maior gênio da Idade Média”, ressaltando a unidade de seus textos com os de Santo Agostinho. Há implícito, nesta apreciação, a tese da unidade essencial entre Platão e Aristóteles, uma tese do platonismo médio, de Antíoco, sendo este o platonismo de Agostinho, um platonismo eclético, aberto ao melhor do aristotelismo e do estoicismo. Pio XII também elogiou Santo Tomás e seu discípulo principal, Suárez. Sobre este ponto, é importante lembrar que os textos democráticos de Suárez e de Bellarmino influenciaram Grócio, Locke, Leibnitz, Jefferson e outros grandes democratas.